'O jumento sedutor', obra final de Ariano Suassuna, está completa
Perfeccionista, autor demorou três décadas para finalizar o livro
“Ariano há muito que vinha escrevendo o que, segundo ele, seria a sua obra-síntese. Esse livro, tive a oportunidade de ‘escutá-lo’ inúmeras vezes quando o visitava. Ariano tinha um enorme prazer em ler trechos dele para nós, amigos que o visitávamos. Por alguma razão, desconfiava que essa sua obra não seria publicada em vida”, recorda o amigo Antonio Carlos de Nóbrega, um dos parceiros do Movimento Armorial.
O premiado escritor pernambucano Raimundo Carrero teve o prazer de ler na íntegra. “Samarone (assessor de imprensa de Ariano) chegou lá em casa e perguntou se eu tinha tempo para ler. Eu achei até engraçado”, recorda. “Li, gostei muito e escrevi um texto, que ele pediu para colocar na orelha do livro. Para mim, é uma realização intelectual”, comemora.
Caudaloso, o livro já tinha formato definido, com moldura e tamanho acima do padrão normalmente adotado. A quantidade de páginas – muitas, sem dúvida – só poderá ser definida após a diagramação. “O material está em papel, com recortes, colagens, emendas, além dos desenhos dele. A obra dele é muito pessoal. Eram muitos Arianos. O artista plástico, escultor, o escritor de poesia, ensaio, romance, teatro. Era um homem muito íntegro”, defende Maria Amélia.
Apesar dos muitos leitores e ouvintes das leituras, o enredo permanece envolto em segredo. A narrativa não convencional não é focada em uma história, com diálogos, mas repleta de imagens e metáforas. “É algo extremamente revolucionário, que forma um painel imenso da cultura brasileira, baseado em ritmos, sons”, reverencia Carrero. “Está mais próximo da odisseia do que do romance burguês, como falamos da literatura”, analisa o escritor e professor. Ele é um dos artistas citados no texto, além de Antonio Carlos de Nóbrega, Zoca Madureira e Lenine.
O título é uma homenagem a Lúcio Apuleio, do século 2, autor de O asno de ouro. E a data para o desvendar dos mistérios também. A ideia inicial seria lançá-lo ainda neste ano, prazo postergado em junho, quando ele optou por novas mudanças. Agora, o lançamento depende da decisão da esposa, Zélia, e dos cinco filhos de Ariano.
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