Na semana passada, fiz uma viagem rápida à Paraíba - de apenas três dias - na agradável companhia do velho Rubem Braga e do paraibano José Lins do Rego.
E foram eles, esses dois contadores de histórias, que "ressuscitaram" em mim algo que fez parte da infância e que eu pensava ter ficado morto lá no passado.
Refiro-me a uma pequena expressão, na verdade uma locução, que nós, lá no Junco, ouvíamos e falávamos muito - a locução substantiva "de vez".
Daquela manga ou goiaba ou banana que já não era mais verde nem estava de todo madura, nós dizíamos que estava "de vez", ou seja, meio verde, meio madura.
Quem nasceu num lugar pequeno, muito ouviu e falou palavras e expressões que, ao chegar à cidade grande, nunca mais pôde falá-las, lê-las, ouvi-las.
Braga e Zé Lins, que nasceram no interior, fizeram renascer em mim essa bela locução que, nas cidades grandes, quase ninguém fala, quase ninguém conhece.
O mestre Rubem, nascido em Cachoeiro do Itapemirim – que é a mesma cidade do rei Roberto Carlos, no Espírito Santo - escreveu a locução no conto "O rei secreto de França".
- ... A mais fina e bela mulher da França saltaria de um velho táxi escuro com seu vestido leve, primaveril, sua pele macia, seu gosto de romã de vez... [Os melhores contos de Rubem Braga].
Zé Lins, nascido em Pilar, na Paraíba, conta, na voz narrativa do "menino perdido, menino de engenho", que perdeu a virgindade aos doze anos com uma certa Zefa Cajá:
- Ela me acariciava com uma voracidade animal de amor: dizia que eu tinha gosto de leite na boca e me queria comer como uma fruta de vez [Menino de Engenho, José Lins do Rego].
Coincidente e curiosamente eu viajara à Paraíba para uma conferência sobre segurança alimentar e nutricional e cujo lema era "Comida de verdade, no campo e na cidade".
Só faltou o pernambucano Alceu Valença para cantar Morena Tropicana: "Linda morena/ Fruta de vez temporana/ Caldo de cana caiana/ Vem me desfrutar".
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