Festival de "foie gras" provoca debate e protesto em Florianópolis
A iguaria francesa é alvo de discussões no mundo todo por seu processo de produção controverso
Um festival de foie gras (fígado gordo, em francês), organizado por um restaurante emFlorianópolis, provocou a reação de pessoas contrárias à produção e consumo da iguaria francesa. No início da noite desta quinta-feira, um grupo de cerca de 50 manifestantes reuniu-se em frente ao estabelecimento, na Lagoa da Conceição, carregando cartazes e entregando panfletos de conscientização sobre o prato. Um evento no Facebook, marcando o protesto, foi criado na última segunda-feira. Até as 21h30 min, o restaurante permanecia fechado, sem avisar se o evento seria cancelado.
A carne utilizada no foie gras é o fígado de pato ou ganso, que em situação de superalimentação do animal, se torna mais amanteigada e saborosa para quem aprecia o corte. Mas o método de engorda, que costuma ser aplicado, é fortemente criticado por ativistas em defesa dos animais e pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
— Esse movimento já acontece no mundo inteiro, e quem luta pela libertação animal e contra qualquer prática cruel tem que fazer algo em uma situação assim. É uma oportunidade de se manifestar e tentar conscientizar as pessoas para que elas saibam o que consomem — justifica Manoela Matioli, fashion designer e criadora do evento no Facebook em protesto contra a produção e consumo de foie gras.
Em Florianópolis, tramita na Câmara um projeto de lei que busca proibir o consumo defoie gras. A ação é da vereadora Maria da Graça Dutra (PMDB). Projeto semelhante também tramita em Sorocaba (SP) e São José (SP), mas foi a partir da discussão na capital paulista que o assunto ganhou repercussão no país recentemente.
Em 25 de junho deste ano, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), sancionou uma lei proibindo a comercialização e produção da iguaria no munícipio. A Associação Nacional dos Restaurantes (ANR) recorreu da decisão, e o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a lei em caráter liminar, sob o argumento de inconstitucionalidade. A prefeitura paulistana também recorreu em contra-argumentação, e o processo ainda está em trâmite.
— A pessoa não pode fazer qualquer coisa para saciar o consumo. Claro que por não ser algo ilegal, não podemos impedir as pessoas de tomar suas decisões. Nosso trabalho agora é conscientizar, mas defendemos a proibição do consumo e da produção por entender que o método de produção não é ético — argumenta Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e vice-presidente da União Vegetariana Internacional.
Processo de engorda é controverso
O método criticado pelos defensores dos animais e que sustenta as leis que tramitam em municípios brasileiros se refere à alimentação forçada a que patos e gansos são submetidos, na maioria dos casos, para terem seus fígados engordados. Após serem alimentados durante cerca de três meses à base de milho e farelo de soja, os animais recebem um composto de milho cozido (amido). Esse composto é inserido à força através da boca e garganta do animal e acelera o acúmulo de gordura em seu organismo. Após a engorda, o animal é abatido, e o fígado, com cerca de 500g e coloração amarelada, é separado e comercializado.
O processo é antigo e remete a ano 2.500 a. C. no Egito, quando a iguaria era apreciada pelo faraós. Nessa época, os egípcios perceberam que as aves tinham o fígado mais macio e saboroso quando estavam gordas e preparadas para as migrações. Ao longo dos séculos, o foie gras foi disseminado pela Europa e se tornou tradicional na culinária francesa. Porém o método de engorda, por vezes considerado cruel, já foi proibido em diversos países como Argentina, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Noruega, Israel.
— Apesar dos métodos, é preciso entender que o foie gras é uma iguaria francesa, repleta de tradição e fortemente inserida na cultura do país. Não é uma questão de glamour, é algo que faz parte dos hábitos familiares e é servido como ápice em momentos como o Natal. Não é preciso consumir, mas respeitar como algo cultural é importante — afirma Gustavo Maresch, professor especialista em culinária francesa no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).
País tem três empresas produtoras
No Brasil existem três empresas que produzem foie gras: Villa Germania, em Indaial, Santa Catarina; Chez Pierre, em Cabreúva (SP) e Agrivert, em Valinhos (SP). Marcondes Moser, diretor de operações da empresa catarinense, não se preocupa com os protestos. Há 15 anos, a empresa observou que o país já importava o produto, e por já trabalhar com patos Pequim em grande escala, decidiu também investir na produção do foie gras.
— Acredito que, pelo próprio desconhecimento e curiosidade que se cria ao redor do assunto, essas polêmicas acabam até aumentando o consumo. A discussão em São Paulo aumentou em 30% a procura nos produtores — conta Moser.
A produção de foie gras pela empresa é de 800 a 1000 peças por mês. O que representa 0,5% da produção de aves e 1,5% do faturamento total da Villa Germania.
— A porcentagem que o foie gras representa no faturamento não é muito significativa, por isso que não nos preocupamos. O consumo no Brasil é pequeno, e nosso foco são outros produtos — avalia Moser.
Marly Winckler, presidente da SVB, também explica que as ações para a proibição da produção e consumo do foie gras no Brasil por parte da instituição levam em conta esse contexto.
— Essa iguaria é restrita a restaurantes de alto padrão, trabalhadas apenas por chefes, são cobrados valores muito caros. Percebemos que isso não altera a economia do estabelecimento, muito menos do Estado ou do Brasil. Nossa intenção não é fechar qualquer estabelecimento, mas conscientizar as pessoas.
O restaurante Pellegrino Massas Artesanais — que organizou um festival de foie gras para esta quinta-feira e se tornou pivô do protesto em Florianópolis — foi procurado pela reportagem durante dois dias, porém não se manifestou. No domingo, dia 23, o restaurante postou na sua página do Facebook que as reservas para o festival desta quinta-feira estavam esgotadas. O valor para três entradas, dois pratos principais e duas sobremesas era de R$ 110,00 por pessoa.
A carne utilizada no foie gras é o fígado de pato ou ganso, que em situação de superalimentação do animal, se torna mais amanteigada e saborosa para quem aprecia o corte. Mas o método de engorda, que costuma ser aplicado, é fortemente criticado por ativistas em defesa dos animais e pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
— Esse movimento já acontece no mundo inteiro, e quem luta pela libertação animal e contra qualquer prática cruel tem que fazer algo em uma situação assim. É uma oportunidade de se manifestar e tentar conscientizar as pessoas para que elas saibam o que consomem — justifica Manoela Matioli, fashion designer e criadora do evento no Facebook em protesto contra a produção e consumo de foie gras.
Em Florianópolis, tramita na Câmara um projeto de lei que busca proibir o consumo defoie gras. A ação é da vereadora Maria da Graça Dutra (PMDB). Projeto semelhante também tramita em Sorocaba (SP) e São José (SP), mas foi a partir da discussão na capital paulista que o assunto ganhou repercussão no país recentemente.
Em 25 de junho deste ano, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), sancionou uma lei proibindo a comercialização e produção da iguaria no munícipio. A Associação Nacional dos Restaurantes (ANR) recorreu da decisão, e o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a lei em caráter liminar, sob o argumento de inconstitucionalidade. A prefeitura paulistana também recorreu em contra-argumentação, e o processo ainda está em trâmite.
— A pessoa não pode fazer qualquer coisa para saciar o consumo. Claro que por não ser algo ilegal, não podemos impedir as pessoas de tomar suas decisões. Nosso trabalho agora é conscientizar, mas defendemos a proibição do consumo e da produção por entender que o método de produção não é ético — argumenta Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e vice-presidente da União Vegetariana Internacional.
Processo de engorda é controverso
O método criticado pelos defensores dos animais e que sustenta as leis que tramitam em municípios brasileiros se refere à alimentação forçada a que patos e gansos são submetidos, na maioria dos casos, para terem seus fígados engordados. Após serem alimentados durante cerca de três meses à base de milho e farelo de soja, os animais recebem um composto de milho cozido (amido). Esse composto é inserido à força através da boca e garganta do animal e acelera o acúmulo de gordura em seu organismo. Após a engorda, o animal é abatido, e o fígado, com cerca de 500g e coloração amarelada, é separado e comercializado.
O processo é antigo e remete a ano 2.500 a. C. no Egito, quando a iguaria era apreciada pelo faraós. Nessa época, os egípcios perceberam que as aves tinham o fígado mais macio e saboroso quando estavam gordas e preparadas para as migrações. Ao longo dos séculos, o foie gras foi disseminado pela Europa e se tornou tradicional na culinária francesa. Porém o método de engorda, por vezes considerado cruel, já foi proibido em diversos países como Argentina, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Noruega, Israel.
— Apesar dos métodos, é preciso entender que o foie gras é uma iguaria francesa, repleta de tradição e fortemente inserida na cultura do país. Não é uma questão de glamour, é algo que faz parte dos hábitos familiares e é servido como ápice em momentos como o Natal. Não é preciso consumir, mas respeitar como algo cultural é importante — afirma Gustavo Maresch, professor especialista em culinária francesa no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).
País tem três empresas produtoras
No Brasil existem três empresas que produzem foie gras: Villa Germania, em Indaial, Santa Catarina; Chez Pierre, em Cabreúva (SP) e Agrivert, em Valinhos (SP). Marcondes Moser, diretor de operações da empresa catarinense, não se preocupa com os protestos. Há 15 anos, a empresa observou que o país já importava o produto, e por já trabalhar com patos Pequim em grande escala, decidiu também investir na produção do foie gras.
— Acredito que, pelo próprio desconhecimento e curiosidade que se cria ao redor do assunto, essas polêmicas acabam até aumentando o consumo. A discussão em São Paulo aumentou em 30% a procura nos produtores — conta Moser.
A produção de foie gras pela empresa é de 800 a 1000 peças por mês. O que representa 0,5% da produção de aves e 1,5% do faturamento total da Villa Germania.
— A porcentagem que o foie gras representa no faturamento não é muito significativa, por isso que não nos preocupamos. O consumo no Brasil é pequeno, e nosso foco são outros produtos — avalia Moser.
Marly Winckler, presidente da SVB, também explica que as ações para a proibição da produção e consumo do foie gras no Brasil por parte da instituição levam em conta esse contexto.
— Essa iguaria é restrita a restaurantes de alto padrão, trabalhadas apenas por chefes, são cobrados valores muito caros. Percebemos que isso não altera a economia do estabelecimento, muito menos do Estado ou do Brasil. Nossa intenção não é fechar qualquer estabelecimento, mas conscientizar as pessoas.
O restaurante Pellegrino Massas Artesanais — que organizou um festival de foie gras para esta quinta-feira e se tornou pivô do protesto em Florianópolis — foi procurado pela reportagem durante dois dias, porém não se manifestou. No domingo, dia 23, o restaurante postou na sua página do Facebook que as reservas para o festival desta quinta-feira estavam esgotadas. O valor para três entradas, dois pratos principais e duas sobremesas era de R$ 110,00 por pessoa.
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