Do fundo de
minha casa vejo os azuis e verdes da baia e, no imenso espaço dos Fuzileiros
Navais, a turquesa solitária de uma piscina raramente usada. Caminhões alaranjados
da Schin ocupam boa parte do estacionamento do quartel e, às seis horas da
manhã, uma voz no microfone há muitos anos substituiu a corneta, talvez pelos
constantes desafinos de marinheiros de ouvido deficiente.
Pelo que leio no
jornal, o primeiro plano de minha paisagem familiar deve sofrer em breve algo
como um terremoto. A Marinha vai se mudar para Aratu, cedendo o lugar a um novo
centro de convenções. Parte da sociedade protesta, em especial os hoteleiros da
orla. Mas faço parte daqueles que aplaudem
a iniciativa.
O Comércio e o centro histórico precisam de projetos que, sem
ferir as idiossincrasias específicas á área, tragam um novo impulso, uma nova
dinâmica. Sugiro um concurso a nível nacional para tão ambiciosa proposta. Precisamos
de algo à la Frank Gehry/Guggenheim o a Ópera de Sidney, ousado e renovador, um
imenso e reluzente búzio à beira-mar pousado.
Mas, por favor, que os antigos galpões
do porto sejam poupados e adaptados a novas funções como em Belém e em Lisboa. Restaurantes,
bares, teatros e galerias. Que além do centro de convenções e de um bom
estacionamento, os idealizadores não transformem o espaço numa escaldante laje
de concreto. Salvador carece
dramaticamente de verde. Porque não um jardim botânico para refrescar
visitantes e baianos? Procura-se um novo Burle Marx para um novo Inhotim...
Enquanto a
Receita Federal, impaciente por deixar a Rua do Pilar, junto ao Museu du Ritmo,
não hesita em pagar a bagatela de R$680 mil mensais de aluguel no Caminho das
Árvores desde 2007, enquanto o Tribunal Regional de Trabalho abandona o belo edifício
do ex-Banco Econômico para um bilionário projeto no CAB, inacessível ao
trabalhador, é bom que nosso governador se oponha com criatividade à
desertificação do centro de Salvador.
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