quarta-feira, 26 de agosto de 2015

BANCOS SUÍÇOS SABIAM

. GRACILIANO ROCHA


 Em 2007, quando Paulo Roberto Costa abriu uma conta em Genebra, Suíça, o alarme do HSBC Private Bank soou. O banco classificou o diretor da estatal brasileira como "pessoa politicamente exposta" – no jargão do mercado, alguém com risco de receber recursos de origem escusa – e abriu uma apuração. Pouco tempo depois, o formulário de aprovação cravava que o risco era baixo.

 O sinal verde veio após relatório de um consultor "independente":
 Bernardo Freiburghaus, hoje réu da Operação Lava Jato, acusado de operacionalizar o pagamento de propina da Odebrecht no exterior justamente para Paulo Roberto
 Costa. Seguindo fontes envolvidas com as investigações, outras instituições repetiram esse tipo de procedimento. Teriam aberto contas mesmo sabendo dos
 riscos. Ao menos dez bancos da Suíça escoaram dinheiro desviado da estatal.


 "O sistema financeiro suíço tem sido seriamente afetado pelo escândalo da
 Petrobras porque muitas pessoas acusadas e até condenadas no Brasil conduziram operações altamente suspeitas em contas aqui", reconheceu o escritório da
 Procuradoria-Geral da Suíça à Folha. Invocando sigilo judicial, a Procuradoria suíça não informou nomes de suspeitos.
 Segundo analistas, a Lava Jato pode trazer consequências incômodas para o setor bancário suíço, que nos últimos anos endureceu as regras antilavagem de dinheiro para melhorar a reputação do país.


 Os bancos locais são obrigados por lei a investigar e reportar suspeitas, por exemplo. Mas essas regras não foram suficientes para impedir a movimentação do dinheiro da corrupção na Petrobras. Inicialmente, as investigações no país se concentraram sobre ex-dirigentes da estatal e operadores. Em julho, a Odebrecht e pessoas ligadas à empresa passaram a ser alvo de inquéritos no país. Segundo fontes próximas da investigação, mais de cem contas bancárias entraram no radar dos investigadores e o equivalente a R$ 1,2 bilhão já foram bloqueados.


 Ainda não há investigação formal sobre bancos suíços, mas o setor financeiro deverá ser o próximo alvo.Por meio do canal de cooperação internacional, o Ministério Público daquele país pediu acesso aos autos da Lava Jato para instruir suas próprias investigações.


GERENTE MILIONÁRIO


 Ao menos três delatores implicaram funcionários graduados de bancos suíços. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco contou que Denise Kos, ex-Safra-Sarasin e hoje executiva do Lombard Oder, o ajudou a lavar US$ 97 milhões em propinas de contratos com a estatal.
 Segundo ele, Kos fez o dinheiro circular por quatro bancos diferentes e também facilitou a abertura de contas. Após terem firmado acordos de delação em que concordaram em devolver R$ 226 milhões, os lobistas Julio Faerman e Mário Góes também disseram que tiveram a ajuda da executiva.
 "O sistema é muito estrito. Mesmo se a cumplicidade [dos bancos] com a lavagem não for provada no plano criminal, condenações graves podem acontecer no âmbito do direito econômico", afirma Millicent Larrey, diretora da Vision Compliance, firma de consultoria baseada em Genebra.
  

  

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