RUY ESPINHEIRA FILHO*
É, o Brasil está em crise.
Aliás, quando foi que o Brasil não esteve em crise? Acho que a crise data do instante em que o primeiro pé de português pisou a terra de Pindorama. Dizem que a
corrupção se iniciou com Pero Vaz de Caminha pedindo uma ajudazinha a Sua Majestade para umfamiliar. Eu, na verdade, não vejo nada de condenável em solicitar um reconhecimentozinho de Sua Alteza – depois de ter ele, escrivão da frota, enfrentado tanto mar, tanto mar, destemidamente, correndo o risco de encontrar monstros marinhos e até o Adamastor cantado por Camões em sua imortal epopeia.
Em minha experiência pessoal, nunca vi nada que não fosse crise. Ainda garoto,
aprendi que ela está presente até em marchinhas carnavalescas – como aquela que diz que “nós somos da crise/ e se ela vier,/ bananas para quem quiser”. Agora,
infelizmente, não estamos distribuindo bananas – mas nos entregando ao medo. Não, não se pode simplesmente negar a crise, mas o fato é que esse medo está sendo muito construído por certa imprensa e por certos políticos – como o Eduardo Cunha, a mais nova abantesma da política nacional, e catadupas de pilantras que só querem mesmo conquistar para si o poder.
Sim, os petistas cometeram erros tremendos. Alguns, considerados impolutos, impecáveis, trocaram sua biografia por dinheiro de propina. Vamos continuar tentando lavar toda essa sujeira, porém nunca deixando de observar com cuidado as
manobras dos que, travestidos de salvadores da pátria, só pretendem mesmo é ganhar o poder – e já sonhando, é claro, com os seus próprios propinodutos
oficiais. A ponta do iceberg do Eduardo Cunha, por exemplo, já revelou cinco milhões de bela propina. Vários são velhíssimos conhecido da Justiça. E há muitos outros, de um lado e do outro, muito bem caladinhos – mas que dariam com os burros n’água se lhes perguntassem como conseguiram a grana para fazendas, apartamentos de milhões e coisas assim. É esperar que a pergunta seja feita.
Outro perigo é a manobra de apelos a certas “reservas morais” que poderiam tirar o país do atoleiro. Uma dessas, e com crescente evidência, é Fernando Henrique
Cardoso.Ora, francamente, desde quando FHC é “reserva moral” – logo ele, com suas ideias estreitas, seus prejuízos à economia, particularmente à Petrobras, e tanta ambição pelo poder que deflagrou toda aquela imoralidade do toma-lá-dá-cá, também conhecido como é-dando-que-se-recebe, para emplacar seu segundo mandato?
Que me perdoem – ou não, tanto faz – os fernandistas, mas FHC sempre me pareceu uma fraude: como político e, claro, como intelectual, sem cuja sociologia o país
passaria muitíssimo bem.E já viram o homem tentando fazer frases sobre o momento político? Exigindo “grandeza” dos outros como se tivesse algum momento de grandeza na vida para mostrar...
Lula sempre disse muita besteira, todo mundo sabe, mas parece que muitos não
percebem as besteiras bem mais graves do FHC. Mais graves porque Lula praticamente não recebeu educação e FHC teve todas as chances. E não aproveitou. Assim, vamos continuar exigindo um país melhor – mas dedicando a certa imprensa
e certas “reservas morais” a desconfiança que merecem.
* R. ESPINHEIRA ESCREVE 5ª-FEIRA,
QUINZENALMENTE
PARA O JORNAL A TARDE
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