Logicamente, se focaram nos blocos básicos sobre os quais se apoia o atual sistema liderado pelos EUA, vale dizer, as instituições das quais os EUA derivam seu extraordinário poder: o dólar, o mercado do Tesouro dos EUA e o FMI. Substitua esses blocos básicos, prossegue o raciocínio, e a "nação indispensável" converte-se em simples mais um país lutando para manter-se à tona. Eis o que se lê no Asia Times:
"Líderes dos BRICS... lançaram o Novo Banco do Desenvolvimento, que exigiu três anos de negociações até ser constituído e começar a operar. Com capital inicial de cerca de $50 bilhões, espera-se que o banco comece, no próximo ano, a emitir empréstimos para financiar projetos de infraestrutura. Também lançaram um fundo $100 bilhões para câmbio de moeda estrangeira."
As duas iniciativas são confirmação de que os cinco maiores mercados emergentes estão ambos de olhos uns nos outros e procurando a mão uns dos outros, simultaneamente, afastando-se das instituições ocidentais de financiamento do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Os Estados BRICS têm planos para usar ativamente seus recursos próprios e internos para o desenvolvimento" - disse Putin, segundo a Reuters. - "O Novo Banco de Desenvolvimento ajudará a financiar projetos conjuntos, de grande escala em transporte e infraestrutura de energia, desenvolvimento industrial." (...) Dar a partida para as duas iniciativas na Rússia, sempre foi das mais altas prioridades de Putin" ("Russia's Putin scores points at Ufa BRICS summit", Asia Times).
Fácil ver o que está acontecendo. Já viram? Putin localizou as fragilidades do Império e está saltando para chegar à jugular. Putin está dizendo é os BRICS vão emitir dívida própria, vão comandar o próprio sistema, vão financiar os próprios projetos, e tudo isso, "nós o faremos em nossa própria moeda". Cabuuuuum! A única coisa que sobrará para os outros fazerem será gerenciar o rápido declínio econômico deles mesmos. "E passem muito bem!" Não é um muito preciso resumo do que Putin está dizendo?
Assim você pode ver, caro leitor, por que nada disso está sendo noticiado nem por jornais nem pelas redes de televisão nos EUA. Washington prefere que ninguém saiba o quanto os EUA estão estragando tudo, alienando os países que mais crescem no mundo.
A Conferência de Ufa foi um divisor de água. E enquanto o Pentágono só sabe mandar tropas e equipamento militar para junto das fronteiras da Rússia, com falastrão após falastrão lá sempre, nas telinhas e nos jornais, a estertorar sobre "a ameaça russa".
Mas os BRICS ainda nem saíram completamente da órbita de Washington. Ainda seguem a liderança de homens e mulheres que - dito bem francamente - agem exatamente como os líderes norte-americanos agiam quando os EUA estavam por cima. São gente que "pensa grande", que quer conectar continentes por estradas de ferro para trens de alta velocidade, elevar os padrões de vida até que ultrapassem qualquer moderação racional, e transformar os seus próprios países em dínamos manufatureiros. O que os líderes norte-americanos sonham fazer? Guerra de milhões de drones? Equilibrar o orçamento? Proibir a bandeira dos Confederados?
É piada. Ninguém em Washington tem qualquer tipo de plano para o futuro. Tudo é só pose e falsidade e oportunismo politiqueiro. Veja o que diz The Hindu:
"China e Rússia descreveram os BRICS, a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e a União Econômica Eurasiana (UEE) como o núcleo duro de uma nova ordem internacional (...)
O presidente Vladimir Putin da Rússia disse que "Não há dúvidas - temos todas as premissas necessárias para expandir os horizontes de cooperação mutuamente benéfica, para reunir nossas fontes de matérias primas, nosso capital humano e gigantescos mercados consumidores para uma poderosa avançada econômica."
A agência russa de notícias Tass também citou o presidente Putin, quando disse que o continente eurasiano tem vasto potencial para trânsito. Putin destacou "a construção de novas e eficientes cadeias de logística e de transporte, em particular a implementação da iniciativa do cinturão econômico da Rota da Seda e o desenvolvimento dos transportes na parte leste da Rússia e Sibéria. Assim se podem aproximar os crescentes mercados nas economias da Ásia e da Europa, maduras e ricas em realizações industriais e tecnológicas. Ao mesmo tempo, nossos países poderão tornar-se comercialmente mais viáveis na concorrência por investimentos, para criar mais empregos, para empreendimentos avançados" - disse o presidente russo." (...).
A reunião também reconheceu "o potencial para expandir o uso de nossas moedas nacionais em transações entre os países BRICS." ("BRICS, SCO, EAEU can define new world order: China, Russia", The Hindu)
O dólar danou-se. O FMI danou-se. O mercado para papéis da dívida dos EUA danou-se. As instituições que dão suporte ao poder dos EUA estão desabando, bem aí diante dos nossos olhos. Os BRICS cansaram-se; cansaram-se de guerras, cansaram-se de Wall Street, cansaram-se de intromissões e hipocrisias e de arrocho e de lições sobre o que fazer e o que não fazer. O que vem dos BRICS é um aceno de despedida. Claro que levará tempo, mas Ufa, Rússia, marca uma mudança fundamental no pensamento, uma mudança fundamental na abordagem e uma mudança fundamental na orientação estratégica.
Os BRICS não voltarão atrás, estão de partida para sempre, assim como o "pivô para a Ásia" dos EUA acabou para sempre. Há resistência demais. Washington superestimou a própria mão. Esgotou a boa vontade dos outros. As pessoas estão fartas de nós. Quem pode culpá-las? *****
10/7/2017, Mike Whitney, Counterpunch
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