terça-feira, 11 de agosto de 2015

A MEDIOCRIDADE DO 6

a mediocridade do 6 

além da escola

MALU FONTES

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Sempre que o Ministério da Educação divulga as médias do Enem, há barulho no país sobre a qualidade da educação. Os índices e o ranking, embora sejam desqualificados por muitos, não deixam de ter o seu valor. É o que se tem para hoje para saber a quantas andam os estudantes brasileiros ao sair do ensino médio. No entanto, a primeira coisa que deveria ser lembrada (e não é) por quem olha para as médias obtidas pela escola do filho é que esses resultados não traduzem apenas o que a escola e seus professores oferecem.
A média geral no Enem dos estudantes mais ricos do país, aqueles situados no topo da pirâmide social e econômica, é de 611 pontos, contra 429 dos alunos mais pobres, considerados literalmente miseráveis. É preciso combinar que, diante dos privilégios todos desfrutados pelos primeiros e das dificuldades todas de quem não tem nada, obter 4,3 contra 6,1 é, sim, tirar leite de pedra. Basta conferir a lista, seja na Bahia ou no Sudeste maravilha, para ver a profusão de escolas renomadas que patinam na média 6. A interpretação é óbvia. Estudantes de classe média alta, frequentadores de escolas caras, seletivas e com recursos pedagógicos de última geração, têm performances medíocres.
Estacionar na casa dos 6 é sinônimo de mediocridade em qualquer lugar, quando se tem os meios e se fala de avaliação de conhecimento, conteúdo, articulação e criatividade. Mediano está associado a média, meio, mediocridade. Escolas não fazem milagres nem lobotomia para inserir repertório e articulação em alunos que, para além da escola, não são influenciados pela família a ser menos óbvios. Na sociedade brasileira, mesmo nos redutos mais elitistas, educação como sinônimo de formação não é um valor. É um fim, não um processo. O que tem valor, e aqui o sentido já é outro, é matricular filhos na melhor escola que for possível pagar. Em muitos casos, as frequentadas pelos mais ricos, para manter os seus entre iguais, longe da diversidade socioeconômica. Famílias às vezes só remediadas se dispõem a pagar os olhos da cara, dando passos maiores que a perna, de olho não na qualidade da escola, aspecto sobre o qual conhecem muito pouco.
KIT MACAQUINHO   
Pergunte-se a muitas famílias sobre o projeto pedagógico da escola cara onde seus filhos estudam. A maioria vai gaguejar. Para a escolha da escola, o foco, essa palavra da moda, está é em coisas mais pragmáticas: a escola tem tradição e os alunos são todos de boa família. Mesmo submetendo os rebentos a coleguinhas que não raro fazem bullying com os menos favorecidos, sem casa de praia, piscina, viagem para a Disney ou até sem a última coleção inteira do kit escolar do macaquinho, o que se quer mesmo é lhes garantir uma boa network, desde a mais tenra idade. Esse tipo de valor é legítimo? Sim, sobretudo em sociedades arrivistas.
Considerar a educação como valor, no entanto, é outro voo. É escolher uma escola que ensine o filho a pensar e refletir sobre o mundo para além das cartilhas da vez. É criar, na vida cotidiana, na rotina familiar, um ambiente continuamente desafiador e estimulante à expansão do intelecto. Manter filhos em contato com livros e leitura, para além dos best sellers e da autoajuda, aproximá-los do cinema e do teatro, para além dos blockbusters e das peças caça-níqueis. 
Formar-se é verbo reflexivo. Assim sendo, com todas essas variáveis, quem está, de fato, melhor na fita? Os alunos miseráveis que não podem comprar uma revista ou ver um filme por mês e tiram média 4 no Enem, ou o universo dos mais ricos que têm absolutamente tudo em termos materiais e mesmo assim ficam no 6? Tá na hora das melhores famílias abandonarem a filosofia da terceirização da formação intelectual dos filhos e pararem de atribuir exclusivamente à escola a mediocridade de um rendimento na casa dos seis. Na cota da família, não entra nada?

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