quarta-feira, 16 de setembro de 2015

LE DIABLE ROUGE

CARLOS BRINKMANN

O diálogo está na peça Le Diable Rouge, do francês Antoine Rault. Passa-se há 400 anos, na França de Luís 14. São 400 anos. E parece que foi anteontem.
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Jean-Baptista Colbert, ministro da Fazenda: "Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, sr. Mazarino, que me explicasse como gastar quando se está endividado até o pescoço".
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Cardeal Mazarino, primeiro-ministro de Luís 14: "Um simples mortal, claro, quando tem dívidas e não consegue honrá-las, vai preso. Mas o Estado é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, continua a endividar-se".

Colbert: "Mas como fazer isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?"

Mazarino: "Criando outros".

Colbert: "Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres".

Mazarino: "Sim, é impossível".

Colbert: "E sobre os ricos?"

Mazarino: "Também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres".

Colbert: "Então, como faremos?

Mazarino: "Colbert! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos."

Transmissão ao vivo

O diálogo entre os dois ministros de Luís 14 é imaginário. Mas é totalmente real. Se não aconteceu naquela época, aconteceu ao menos nesta segunda-feira.

A dívida como ela é
Os cortes de despesas anunciados pelos ministros de Dilma virão um dia, talvez, pode ser. Vão cortar ministérios, mas não se sabe quais. Cortar parte dos mais de cem mil funcionários nomeados sem concurso (contra menos de dez mil nos Estados Unidos), nem pensar. Já o imposto, CPMF, está pronto para ser atochado. 

Dependemos do Congresso - deste Congresso! - para evitar que vire lei.

Contando moedas
Só os cargos mais bem pagos, os DAS (Direção e Assessoramento Superior), entregues sem concurso a quem tem melhor QI - "quem indica" - são 24 mil. Custam uns R$ 2 bilhões por ano.

Ou 6% do déficit do orçamento federal.


O caminho dos ratos

Não é preciso ler os analistas para saber como vai o Governo. Para saber como vai um navio, basta observar o comportamento dos ratos. E um grande número de ratos chapa-branca está virando oposição.

São coxinhas desde criancinhas.

A próxima etapa
Atenção: os escândalos federais deixaram filhotes. A coisa está passando despercebida porque irregularidades municipais, perto dos petrolões, são pixulequinhos. Mas preste atenção na quantidade de problemas que surge na Prefeitura petista paulistana: o Tribunal de Contas do Município (em que o prefeito costumava ter bom trânsito) mandou suspender uma megalicitação de iluminação pública, por irregularidades; o mesmo TCM aponta superfaturamento na construção de ciclovias, bandeira do prefeito Fernando Haddad. Em apenas duas obras, as ciclovias da avenida Paulista e do Minhocão, o superfaturamento apontado alcança R$ 2,4 milhões. Há mais 13 ciclovias em análise. Surgem coisas estranhas até nas placas de sinalização de ruas, trocadas a toda hora para reduzir limites de velocidade. Segundo pesquisa da rádio Bandnews FM, o preço das placas no mercado varia de R$ 80 a R$ 300. Haddad pagou entre R$ 300 e R$ 1.000,00.

E aparece um novo caso exemplar: o deputado Ennio Tatto, irmão do secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto, e do vereador Arselino Tatto, todos do PT, aumentou em 30% a área construída de um imóvel seu. Todas as instâncias legais rejeitaram a regularização da obra.

O prefeito Fernando Haddad, PT, decidiu regularizá-la. Por que? Porque sim.


A guerra da estrada

A CCR, grande concessionária de rodovias, acaba de perder importante processo, movido pelo Governo paulista e pela Artesp, Agência Reguladora de Transportes de São Paulo. Com a derrota, fica anulado o aditivo que prorrogava o vencimento de seu contrato, previsto para 2018, até 2026. A CCR se defendeu com argumentos técnicos, mas sem citar a data da assinatura do aditivo, pelo então governador Cláudio Lembo. A data foi decisiva: 27 de dezembro de 2006, só quatro dias antes do início do mandato de José Serra. Na época, o aditivo de prorrogação foi recebido com estranheza pelo mercado, por ser algo inédito.

E Alckmin, que cuidou da privatização das rodovias, nunca engoliu a prorrogação.

O strip-tease do anão

Mas não é só de vitórias que vive o Governo paulista. Neste momento, tem de explicar uma festa com cocaína e maconha numa penitenciária feminina, festa com pagodeiros e delegada sambando numa delegacia, festa com strip-tease de anão em outra delegacia.

Não consegue se dedicar a prender autores de chacinas.
Aguarde! Prepare-se. Chumbo Gordo vem aí.
 

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