FREQUENTAM NOSSA MESA
Na sociedade
contemporânea, praticamente não há ninguém que não tenha um conhecido, um amigo
ou um parente padecendo de males como Alzheimer, Parkinson ou autismo. Apesar
de todo o avanço científico, esses problemas continuam definidos como
incuráveis. Você sabia que um dos agentes geradores desses sofrimentos pode
estar todo dia à sua mesa, nas refeições que você prepara? O coordenador geral
do Centro de Pesquisa Mokiti Okada e diretor industrial da Korin, Luiz
Carlos Demattê Filho, médico-veterinário
e com doutorado em Ecologia Aplicada pela ESALQ, identifica esse vilão e mostra
po que o CPMO, em parceria com a Korin, vem desenvolvendo um esforço que já
granjeou reconhecimento nacional e internacional.
IZUNOME: Qual a situação do Brasil
no panorama agrícola mundial?
O
Brasil figura entre os maiores produtores num mundo cada vez mais globalizado.
Grande parte da produção (no ano-safra 2014/2015 foram colhidas mais de 200 milhões de toneladas de grãos),
alcança o mercado externo. Isto nos torna também o maior consumidor de
agrotóxicos e o segundo maior produtor de grãos geneticamente modificados,
atrás apenas dos EUA em termos de área agrícola e de produção total.
A liberação do plantio transgênico
não mudou essa realidade?
Pelo
contrário. A relação entre essa liberação, em março de 2005, e o aumento
acentuado de agrotóxicos que se seguiu a ela é um fato bastante conhecido,
francamente contrapondo-se ao discurso de
que os transgênicos, uma vez autorizados, iriam gerar redução do uso de
agentes químicos.
O
aumento é tão expressivo, que hoje somos líderes mundiais no consumo de
agrotóxicos, mesmo considerando que nossa produção é menos da metade da safra
norte-americana. Infelizmente, o Brasil caracteriza-se por ser extremamente
permissivo e tolerante no uso e aplicação de agrotóxicos.
Qual o impacto dessa situação no
cotidiano das pessoas?
É
obvio que isso traz consequências à saúde, não apenas das pessoas mas também
dos animais e do meio ambiente em geral.
Algumas
destas graves consequências já são bem conhecidas, como é o caso das
intoxicações agudas em trabalhadores rurais, passando pelos problemas de
fertilidade que cada vez mais afetam os jovens. Outras, no entanto, são muito
menos conhecidas e relacionam-se intimamente com o aumento das áreas de
transgênicos.
Pode citar um exemplo?
As
plantas transgênicas foram desenvolvidas para resistir aos herbicidas,
substâncias que matam o mato, como o glifosato, que é o produto mais utilizado.
Ele entra nas células das plantas e impede seu processo normal, o que acaba por
matá-las. Os fabricantes dizem que o glifosato não é tóxico para homens e
animais, pois obviamente n~~ao somos feitos de células vegetais.
Isso é verdade?
É
e não é. O que ocorre é que as bactérias que habitam nosso intestino possuem os
mesmos mecanismos das células vegetais, ou seja, são, sim, afetadas pelo
glifosato. O resultado é semelhante ao que acontece com o uso de antibióticos.
Um tipo de microrganismo é destruído, enquanto outros não são afetados, e isso
altera o equilíbrio bacteriano. O problema é que eles são fundamentais para a
nossa nutrição e saúde.
O contato, seja pela aplicação ou
pela ingestão desse tipo de agente, causa algum tipo de doença?
Pesquisas
avançadas relacionam nossa exposição ao glifosato com o aumento descomunal do
autismo, assim como de outras doenças de origem neurológica como o Alzheimer e
a doença de Parkinson. Para ilustrar, dados dos EUA mostram que, em 2007, havia
uma a cada 150 crianças inseridas no espectro do autismo; em 2009, já era uma a
cada 100, e uma a cada 50 em 2013, o que leva à tenebrosa previsão de que, em
2025, em cada duas crianças, uma estará inserida no contexto do autismo.
De que forma o glifosato atua no
organismo humano?
A teoria que relaciona
o evento do autismo ao glifosato é igualmente complexa, mas vale a pena
entender um pouco. As pessoas pensam nas bactérias sempre nos seus aspectos
negativos. Hoje, sabemos: elas são imprescindíveis à nossa vida.
Alguns aminoácidos,
sobretudo os que possuem enxofre em sua molécula, são sintetizados no intestino
pela ação de bactérias. É o caso da tirosina, do triptofano e da metionina. A tirosina é essencial para a
síntese de dopamina, adrenalina e da melanina.
O triptofano é indispensável à síntese da serotonina e da melatonina;
esta última, fundamental ao sono. E a metionina é um aminoácido imprescindível,
com uma ampla utilização em nosso organismo.
A serotonina, a
dopamina, a melanina e a melatonina são substâncias naturais em nosso organismo
e vitais para a saúde de nosso cérebro e de nossa dimensão emocional. O
desequilíbrio dessas substâncias leva à depressão, à agressividade, à
hiperatividade, à insônia, à obesidade e, finalmente, às doenças neurológicas
que citei anteriormente.
Um
problema puxa o outro?
Exato. Uma inflamação
crônica do intestino, por exemplo, resultado da alteração microbiana, acaba
levando à deficiência na produção de neurotransmissores, que são importantes
para a nossa saúde. Um efeito talvez nunca pensado, mas que estudos e pesquisas
científicas avançadas têm-nos forçado a reconhecer.
Como
modificar essa realidade?
Ao observar a relação
entre o uso de antibióticos na produção animal e o de herbacidas na produção de
grãos, constatamos que ambos causam deanos irreparáveis ao equilíbrio que
devemos buscar com todos os seres da Natureza; nestes casos, simples bactérias
sem as quais não existiríamos. É nessa convivência cooperativa que o Criador
fundamentou nossa sobrevivência e nossa felicidade nesse planeta. Cabe a nós,
portanto, buscar formas de produzir e colocar à disposição da sociedade
alimentos em consonância com tais leis universais. Nisso reside o profundo significado da Agricultura Natural.
Fundação
Mokiti Okada– CPMO (Centro de Pesquisa Mokiti Okada)
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