sábado, 1 de novembro de 2014

DARVAZ 45°


Bela, jovem ainda, ela caminha no calor do meio-dia, se aproxima da imensa cratera no meio do deserto de Karakum. O forte cheiro a enxofre não lhe incomoda. Foi por esta estranha fatia de entranha da terra que ela deixou os perfumes parisienses e os gramados do Ibirapuera. 
Pelas chamas que iluminam as noites geladas - chamas que queimam um pouco do gás que o Turcomenistão manda para a Rússia – ela ousou adentrar um dos regimes mais radicais do mundo depois da Coréia do Norte. 
Camila Sposati não veio à procura da rota da seda. Persegue pelo mundo afora crateras, sejam elas naturais ou resultado da incessante busca do homem pelos segredos da terra.

Fecha-se a cortina asiática para se levantar outra, mais leve, sobre uma ilha tropical. Há nove meses foi convidada para participar da III Bienal da Bahia, rica agora de diplomas - residências em Londres, Paris, Helsinque, Glasgow, Tóquio. Faculdades, institutos e bibliotecas foram, por anos, a rotina quotidiana. Prêmios. Muitos. 
O último sendo do IPHAN para sua exposição no Paço Imperial do Rio de Janeiro. 


Camila escolheu a dengosa cidade de Itaparica para cavar/construir uma estrutura de teatro anatômico da terra. Obra efêmera, desconcertante como um óvni. Objeto de comentários insistentes desde os bastidores do MAM até a sombreada Praça da Quitanda e as escolas da ilha. 
Obra que atrai o apoio de nomes consagrados na Bahia: Tuzé de Abreu, Bernard Attal, Pasqualino Magnavita, Carmen Paternostro, Tuca Pinheiro, Carlos Etchevarne. Quem diria que a gentil Caca da tia Luiza (Erundina) fosse se transformar numa artista irrequieta, procurando elos entre química, geografia, física e história?
Amanhã, outros teatros anatômicos. No Alentejo? No Rif marroquino? Na Provence? Depende de acordos com fundações e ministérios culturais. 
Em paralelo, prepara, aqui, no bairro de Santo Antônio, exposições em Paris, São Paulo e Nova-Iorque. 
Continua caminhando.


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