Nos anos 90, quando assisti Cinderela Baiana, a cinebiografia ficcional de Carla Perez, achei que tinha assistido ali o pior filme já feito no mundo. Esperei quase 20 anos para ver que, em se tratando do pior, sempre haverá alguém capaz de ir mais fundo no fundo do poço. Falo de O CASAMENTO DE GORETE, a maior coleção de erros já reunidas em uma única película. O argumento - filho gay com tendencias afetadas, expulso de caso após o pai flagrá-lo vestido de mulher abraçado a um amiguinho, precisa voltar a casa paterna depois de 20 anos para receber a herança, desde que case com um homem (como assim? ele não foi expulso por ser boiola?), é raso como uma folha de papel recém saída da resma. Para conta de roteiro tão desafiador, o diretor(??????) Paulo Vespúcio (que um dia achei um ator interessante até...) reúne o maior número de clichês, grosserias, piadas chulas, situações ridículas e equívocos em todos os níveis e de todos os tipos. A caracterização das personagens é um dos maiores exercícios de abominação já vistos. Tudo é tosco, grotesco e deplorável, fora de qualquer ilustração mínima do que seja direção de arte. Nem sequer se pode chamar de direção de trash, seria injusto com o kitsch, digo mais, se jogar no lixo, ofende aos dejetos. Cenografia, figurino, maquiagem, luz, trilha, tudo ultrapassa o bizarro, se inscreve instantaneamente na categoria aberração. Quanto aos atores, bem, eles até que se esforçam, mas é tudo tão absurdo, tão horrível, tão terrivelmente ruim que assusta saber que figuras tão díspares como o ator Ricardo Blat, o comediante Tadeu Melo e a cantora baiana Virginia Rodrigues, foram parar nessa roubada. Posso ressalvar que em cinema o ator tem pouco ou quase nenhum controle sobre seu próprio trabalho, quanto mais o resultado final. Ele não sabe como sua imagem está sendo capturada nem como será editada. O protagonista Rodrigo Sant'Anna demonstra porque o Zorra Total é seu lócus, mas aproveita para explicitar que é também seu teto, pois além daquela representação caricata e bufa de tipos esquemáticos e estereotipados, resumidos a bordões tolos que agrada a meia dúzia de incautos, ele não é capaz de ir. Fosse eu presidente do Sated-RJ proporia a cassação sumária de seu registro de ator!
SÉRGIO SOBREIRA
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