Estudante, saía de um
cinema para entrar noutro. Até três filmes por dia, três dias seguidos. Em
Paris, ousei defender América, América,
Kazan então execrado por ser
maccartista. Na Cinémathèque, ouvia o mítico Henri Langlois como se missa fosse.
Vi com meus olhos, vi, e ouvi Vicente Minelli apresentar An
American in Paris.
Nas décadas 70-80 Salvador oferecia momentos especiais. Tamoio,
Capri, Popular, Excelsior, Jandaia, Guarani, Politeama. Chica da Silva, O
bandido da luz vermelha, Dona Flor, Byby Brasil, Lúcio Flavio. Mas, com a
sacralização dos shoppings, os enlatados acabaram com minha bulimia. O cinéfilo
adormeceu...
... Para acordar com as Salas de Arte e, finalmente, com o
novo Glauber Rocha, verdadeiro portão cultural para adentrar condignamente o
centro histórico. Com Marília Hugues e Cláudio Marques encontrei uma segunda
adolescência na escuridão cúmplice das pequenas salas. Sei do labirinto
burro-crático que se esmerou em desestimular, afogar o entusiasmo do casal.
Mas
o 10° Panorama, que terminou no princípio de novembro na empolgação geral da
nova geração de profissionais e amadores, é a prova de que valeu o sacrifício
de anos de briga para gerar criança tão problemática. Mergulhei neste festival de
talentos desconhecidos.
Nadei na felicidade, chegando ao clímax com as duas
partes do Ivan o Terrível. Quase meio século sem nada ver do Eisenstein. Como consegui
sobreviver?! Claro que perdi muita coisa, já que três salas projetavam
simultaneamente obras de jovens cineastas e retrospectivas paralelas.
Após
assentar a poeira, como negar os novos valores? O tempo sem dúvida saberá confirmar.
Alentadora a constatação desta nova onda que, sabiamente, foge ao apelo de uma
sociedade canibalizada pelo consumismo selvagem.
Agradeço a bela viagem.
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