Peguei o
bonde andando! Apesar da proximidade – devagar demoro quatro minutos desde
minha casa - já tinha aberto vários meses antes de eu saber da existência
d´Aboca na Rua dos Marchantes. Mergulhei de cabeça neste bar improvável, que só
abre às quartas-feiras, das 18 às 22. Madames até que podem se chegar, mas
atenção: não é chique nem colunável. É um antro inquietante povoado de seres de
outros satélites. Tem gordas tatuadas, tem magérrimos rastafáris, tem indefinidos/das
de óculos lantejoulados, tem ancião barrigudo de chapéu de palha e até já
pintou uma criancinha de colo. Teve medo de chorar. Mas como o sorriso de Liza
e Vinicius é para lá de contagioso, então todos os extraterrestres mostram os
dentes e riem de alegria que a vida é curta e isso é muito bom!
Já escutei
reggae e hip-hop, bachianas de Villa-Lobos cantadas por Eneida Lima, Summertime
por uma cantora do Togo, Ernesto Nazaré pelo brasiliense Naruh Payne e a flauta
mágica de Elena Rodrigues. Eu mesmo contribuí com um húngaro e seu acordeão clássico
e um saxofonista rock direto de Paris.
Lá descobri
a Célia Furacão França. De sua escandalosa intepretação da Geni nem o Chico
Buarque sonhou. A Divina (72) Valéria-Dor-de-Cotovelo e Marcelo Fonseca, violinista
a la Django Reinhard. Vez ou outra pousa Açúcar Portela, anjo dourado de escuríssimos
óculos redondos e asas de plumas arco-íris. Debochado, o cara! ...
Você poderá
pagar a entrada ou filar. Muito fácil. Poderá beber água, caipirinha ou nada e
até comer pizza, mas que importa se nas incertas luzes da ribalta cantores,
poetas e músicos explodem e se desmancham na leveza do ar? Que ninguém duvide:
Aboca faz parte desde já da mitologia musical da Bahia. Nas próximas gerações,
muitos poderão se vangloriar de lá ter escutado, com apresentação do poeta
Tiago Oliveira, estrelas então desconhecidas.
E eu posso voltar a pé até minha
casa, cumprimentando en passant a
vizinhança...
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