quinta-feira, 30 de junho de 2016

PORQUE EXCLUÍ-LOS?

Resultado de imagem para FOTOS VENDEDORES DE COCO NA BARRA SALVADOR
"A população deve saber o que está acontecendo, como estamos sendo tratados e o que passamos. Não sabemos mais a quem recorrer?"
A AMABARRA entrevistou dois dos vendedores de cocos da Barra, que perderam seus quiosques na orla do bairro, após a obra de “requalificação”. No total foram 06 quiosques retirados.
Os entrevistados relatam as promessas, as muitas idas e vindas desse processo, os dramas pessoais, o desespero, a descrença, as dificuldades financeiras e o descaso com que são tratados.
Antes de mais nada, entendam o caso:
A Promessa:
No projeto de “requalificação” da orla da Barra, foi prometido aos vendedores licenciados que os seus pontos seriam mantidos, sendo o mobiliário padronizado. O combinado era que eles seriam comunicados, com antecedência, do dia que deveriam desocupar os pontos e do dia que deveriam retornar, 90 dias após a conclusão da obra, readequados, na mesma área.
A Realidade:
Passados 2 anos após a entrega da primeira fase da obra, os vendedores continuam sem os quiosques prometidos.

A Entrevista:
Joanice Conceição, mais conhecida como Jô do Coco, tinha o seu ponto em frente ao Forte de Santa Maria, no Porto da Barra. Esse ponto, inaugurado em 1980, fazia parte da 3ª geração de sua família. A Jô é considerada um “patrimônio” do bairro, pelos anos que está à frente da venda de cocos no Porto.
AMABARRA – Jô, você poderia nos contar como era a sua situação comercial antes da retirada do seu quiosque, para que a obra de “requalificação” fosse realizada? E como está a sua situação atualmente?
Jô- Trabalhava naquele ponto desde 1995, tinha uma clientela cativa, muitos moradores do bairro frequentavam o meu quiosque. Meu ponto era uma referência para os caminhantes, atletas, banhistas e até para os turistas que paravam para beber uma água de coco enquanto admiravam a praia do Porto e o Forte de Santa Maria.
Eu tinha 1 empregado registrado com carteira assinada, vendia em média 200 cocos por dia, na alta estação, e naquela época tinha como me planejar financeiramente. Graças ao meu trabalho, consegui comprar um carrinho popular, pagava um plano de saúde, ajudava minha família e tinha uma boa qualidade de vida.
A situação atual é oposta àquela. Depois que perdi o ponto, meu faturamento caiu drasticamente, hoje comercializo em média 200 cocos por semana, na alta temporada!
Tive que demitir o funcionário, cancelar meu plano de saúde, vender o meu carro para pagar compromissos, deixei de ajudar meus parentes e há mais de 2 anos não compro absolutamente nada para mim ou para minha casa, além do necessário, que é a alimentação.
Com o deslocamento para um ponto, escondido, dentro de uma galeria passei a pagar um aluguel mensal para poder trabalhar, além das taxas de licenciamento que pago religiosamente em dia, para não perder o direito de comercializar cocos.
Minha qualidade de vida foi afetada radicalmente, cheguei a adoecer e só Deus para me amparar nesse momento.
Amabarra – Nos conte, exatamente, como foi esse processo da retirada dos quiosques e da promessa feita aos vendedores de coco, após a conclusão da obra?
Jô - Fomos notificados pela prefeitura, antes da obra, que aquela área iria passar uma revitalização e que em breve teríamos que desocupar os espaços. Não tínhamos nenhuma informação sobre como ficaríamos no período durante e depois da obra. Fomos na SEMOP buscar informações sobre os nossos pontos e naquele momento solicitaram para desconsiderarmos as notificações (fev/2014) e que posteriormente seríamos procurados para definirem a nossa situação. Enquanto a obra acontecia no Porto, uma assistente social da Odebrecht me informou que eu não poderia ficar no ponto (final de maio/2014), por que eles teriam que demolir o quiosque. Como a SEMOP não nos procurou e os quiosques dos vendedores de coco do Farol já tinham sido demolidos, fui novamente buscar uma definição para o meu caso. Novamente, a SEMOP não tinha nenhuma posição. Eu ficava sem saber o que ocorreria e isso me deixava doente. No início de junho/2014, cheguei para trabalhar e me deparo com funcionários da SEMOP exigindo que retirasse todo o meu material naquele momento. Fiquei desesperada, não tinha encontrado nenhum lugar para guardar meus freezers e meu material de trabalho. Eles não queriam saber, me disseram que se não retirasse tudo iriam passar com as máquinas por cima! Fui para a SEMOP em busca de ajuda e lá nada puderam fazer, não me diziam nada e fiquei sem chão. Voltei para tentar salvar meu patrimônio e minha mercadoria. Vi meu quiosque ser demolido, anos e anos de trabalho e de muitas lembranças foram ao chão, a imagem foi muito triste, sofri muito, só resisti por que me prometeram uma nova barraca, 90 dias após a conclusão da obra.
Quando a primeira fase da obra foi entregue, percebemos que os quiosques não haviam sido construídos, não nos procuraram e não tínhamos notícias. Procuramos o secretário Bellintani, na época o responsável pelo processo, que nos disse que aguardássemos até o início de dezembro/2014, que teríamos os quiosques prontos.
Amabarra – E dezembro chegou, e aí? O secretário Bellintani entregou os quiosques?
Jô- Não! Depois de 6 meses, em plena alta estação, já com prejuízos e sofrendo com toda essa situação, a prefeitura não se pronunciava, não falavam nada a respeito, não diziam se iriam construir ou o motivo pelo qual não iriam nos devolver os pontos. Estava passando por muitas dificuldades e me sentindo humilhada, desrespeitada e indignada com a prefeitura. Ninguém nos procurou para dizer o que aconteceria e fiquei sem poder me planejar. Um dia o prefeito estava na orla, consegui chegar perto dele, peguei em seus braços e implorei, desesperada, por uma solução! Estava tão angustiada e preocupada que ele notou e me orientou a levar toda a minha documentação no gabinete da prefeitura, procurasse o Sr. Mário Cortes que ele iria resolver a nossa situação. Isso foi no final de dezembro/2014.
Amabarra – E aí, ele resolveu? Afinal ele é o prefeito da cidade!
Jô - Quando ele me pediu para ir ao gabinete com a minha documentação, fiquei aliviada, acreditei enfim que iria ter o meu ponto e o meu quiosque de volta. Cheguei lá, procurei o Sr. Mário, entreguei a documentação, contei a história toda, tudo que tinha ocorrido, a situação dos vendedores de coco da orla da Barra. O Sr. Mário, disse que iria tomar as providências e que em breve entraria em contato comigo com uma definição. De lá para cá, estou aguardando esse contato.
Amabarra – Até com um pedido do prefeito a situação de vocês não foi resolvida? O que vocês e os outros vendedores de coco fizeram?
Jô – Não, não foi resolvida, foi outra decepção! Chegamos a pensar em entrar na justiça, não levamos a ideia em frente por que alguns vendedores de coco não concordaram, tinham medo de represálias. Só me restou procurar novamente respostas nos órgãos da prefeitura. Em outubro/2015, procuramos a Sra. Rosemma Malluf, gestora da SEMOP, explicamos toda a situação e ela, demonstrando interesse, ficou de resolver a nossa situação. Mais outra decepção, de lá para cá, nenhuma palavra sobre o assunto. Ninguém nos diz nada, isso só aumenta a nossa angústia e o nosso desespero. É muito difícil viver se humilhando para os gestores que parecem não se importar com o nosso caso. Estamos legalizados, pagamos a licença, geramos emprego e comercializamos um produto saudável. Não entendemos o por que a prefeitura faz isso com a gente!
Amabarra – Como você se sente com isso tudo?
Jô – Decepcionada, indignada, desrespeitada e só não perco a esperança porque me apego a Deus. Rezo muito para que tudo isso se resolva logo.
O Segundo entrevistado:
O Sr. Antônio Menezes, tinha o seu ponto ao lado do Farol, junto à escadaria que dá acesso à praia. Trabalhando desde 1995 naquele local, também, tinha sua clientela cativa. Vendia, em média, 80 cocos por dia na alta temporada e empregava um funcionário.
Amabarra – Conte-nos o que aconteceu no seu caso?
Antônio – O processo foi muito parecido com o da Jô. Ninguém nos procurou para dizer como ficaria nossa situação durante e após a obra. No meu caso, tive o quiosque derrubado logo no início da revitalização, por que a região em que estava serviu de canteiro de obras. Os vendedores de coco foram remanejados, temporariamente, para outros locais. Tivemos que comprar um carrinho para vender o coco, é o que trabalho até hoje. Alguns vendedores não conseguiram comprar, por causa do alto custo (R$ 3.000,00 um novo) além de terem que arcar com o aluguel de um depósito para guardá-lo.
Meu faturamento caiu em 50%, tive que demitir o funcionário, reduzi meus custos e perdi muito em qualidade de vida também. É triste chegar na minha idade e ter que passar por isso!
Amabarra – Hoje como está a sua situação?
Antônio – Muito difícil, procuro como os outros, uma solução para o nosso caso. Já fui em busca de ajuda na SEMOP, na prefeitura e recentemente fomos na reunião que teve na AMABARRA, com o Sr. Paulo Câmara (Presidente da Câmara de Vereadores de Salvador) para expor a nossa situação. Enfim, buscamos ajuda das pessoas que podem fazer algo.
Amabarra – O que mais lhe deixa indignado com tudo isso?
Antônio – O descaso! Poucas pessoas sabem o que passamos. Nós tiramos o nosso sustento do coco e sem os nossos pontos ficamos sendo jogados de um lado para o outro. Quando há grandes eventos na região, somos remanejados para outras áreas e ainda temos que pagar R$ 40,00 a mais, além das taxas que já pagamos. No período do carnaval somos realocados para as ruas de dentro, por que o espaço que temos são ocupados por carros com comida (food truck). Nesse último carnaval fomos proibidos de vender água de coco na região, por que um dos patrocinadores do carnaval era a Água de Coco Obrigado, a que vende a água industrializada. Isso é uma falta de respeito com o trabalhador, que deseja ganhar seu pão de forma honesta.
Agradecemos a Jô e ao Sr. Antônio pela entrevista. Acreditamos que a sociedade deve ficar ciente dessa situação. Essa luta pela volta dos quiosques de coco e os de Acarajé é uma das reivindicações da AMABARRA.
Ressaltamos que esses vendedores trabalham no bairro há mais de 20 anos e comercializam produtos que são referências na Bahia, coco e acarajé. Acreditamos que turistas quando nos visitam, principalmente na beira da praia, procuram por coco. E nas propagandas de imagem da cidade esses produtos são largamente sugeridos. Por que não valorizamos esses produtos?
Então, gostaríamos de fazer algumas perguntas para a prefeitura:
Qual o motivo de não inserirem esses quiosques no projeto?
Por que excluí-los do processo de requalificação?
Inúmeras cidades litorâneas padronizaram os quiosques de coco, uma rápida busca na internet pode confirmar isso, por que não fazemos o mesmo?
Será que o fato dos quiosques serem fixos, poderiam atrapalhar os eventos na orla da Barra? Será que há outros interesses que desconhecemos?
Será que preferem vender a água de coco industrializada do que a natural?
No projeto original os quiosques estavam previstos, por que eles não saíram do papel?
São muitas perguntas e não gostaríamos de ficar sem respostas srs. responsáveis, afinal estamos tratando de pessoas, que buscam só uma resposta:
Quando eles terão de volta os seus quiosques?
Só lembrando o que circulou na mídia:
“Barra – Uma das áreas mais impactadas com a revitalização, a Barra terá R$50 milhões em paisagismo, iluminação, implantação de piso compartilhado usando toda a largura da rua, com dutos subterrâneos, definição de espaço para a prática do ciclismo e caminhada, piso tátil para pessoas com deficiências, rampas de acesso à praia, quiosques para informações turísticas e para comércio de coco e acarajé, sanitários públicos, posto salva-vidas, entre outras intervenções. Os recursos são do governo federal, através do Prodetur, e da Prefeitura. O trânsito também será totalmente modificado na Barra, o que vai ser anunciado à comunidade antes do início das obras.”
Mudanças na Orla
"Uma das novidades do projeto é a implantação do piso compartilhado para veículos e pedestres, em concreto. Também está prevista a definição de faixas compartilhadas para bicicletas, caminhadas e pessoas com dificuldades de locomoção. Em todo o trecho, serão implementadas rampas de acesso à praia, quiosques turísticos e para venda de coco e acarajé, sanitários e postos salva-vidas. A Barra também receberá novo paisagismo e iluminação."
correio24hora comeco-das-obras-de-requalificacao/ 23/09/2013 Da Redação do Correio da Bahia.
“Dentre os anúncios feitos, tem ainda a recuperação da pavimentação e drenagem de diversos trechos, requalificação do calçadão para caminhadas, com implantação de rampas de acessibilidade, implantação de bancos de concreto ao longo do calçadão, além de rampas de madeira até a praia, quiosques médios para bar e restaurantes e quiosques pequenos para coco e acarajé. Destaque ainda para quiosque de informação turísticas, posto salva-vidas, sanitários públicos e estruturação da iluminação pública e paisagística.”
Tribuna da Bahia /2013/06/13
Prefeitura intensifica ordenamento de ambulantes na Orla da Barra
Publicado: 15 Agosto 2014 Agecom Assessoria.
“A Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop) intensificou, nesta sexta-feira (15), o ordenamento e fiscalização dos ambulantes e comerciantes da Orla da Barra. O trabalho dos 44 agentes do órgão vai desde o Porto da Barra até o Morro do Cristo, abrangendo também as transversais."
"De acordo com Iuri Dias, coordenador de feiras e mercados da Semop, existem aproximadamente 50 ambulantes no bairro, mas a determinação é que apenas vendedores de coco, acarajé e souvenir fiquem na Orla, reduzindo o número para 27 comerciantes informais. Dias complementa que os vendedores de caldo de cana, picolés e bijuterias, além de e lanches em geral, ficarão nas transversais. Em um outro momento, haverá uma consulta aos ambulantes para saber se desejam permanecer ou mudar de atividade.”
“Baianas e vendedores de água de coco terão equipamentos padronizados na região e haverá lixeiras especiais para descarte dos cocos. O gramado da Barra terá um sistema de irrigação automática.”
correio24horas noticia/nova-barra 11/08/2014.
Prefeito apresenta a moradores projeto de revitalização da Barra
Criado: 21.08.13 comunicacao.salvador.ba.gov.b
“O prefeito ACM Neto e o chefe da Casa Civil, Albérico Mascarenhas, apresentam nesta quarta-feira (21) o projeto de revitalização da Barra aos moradores da região, na sede da Associação Atlética, às 18h30. A Barra será uma das áreas mais impactadas com a revitalização da orla de Salvador. Serão investidos R$50 milhões em paisagismo, iluminação, implantação de piso compartilhado para veículos e pedestres, usando toda a largura da rua, com dutos subterrâneos, definição de espaço para a prática do ciclismo e caminhada, piso tátil para pessoas com deficiências, rampas de acesso à praia, quiosques para informações turísticas e para comércio de coco e acarajé, sanitários públicos, posto salva-vidas, entre outras intervenções. Os recursos são do governo federal, através do Prodetur, e da Prefeitura.”

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