Comecei por
almoçar no pouco memorável restaurante da Fundação Ricardo Brennand, no Recife.
Difícil ser imparcial ao passear pelas entranhas do improvável castelo de
tijolos da Várzea. Nada contra um material também usado na sublime catedral de
Albi e em palácios britânicos.
Mas a impressão ao sair desta empreitada é que
Dom Ricardo perdera a oportunidade de criar algo realmente excepcional. Certo,
alguns conjuntos são de alto valor museológico, como o acervo iconográfico da
sala dita dos globos, os Franz Post – precisando de boa limpeza - e os deslumbrantes
vidros de Charles Schneider escolhidos com infinita sensibilidade por Janete
Costa. A paisagem é magnífica, com sua alameda de altas palmeiras e suas lagoas.
O conjunto, porém, mais parece depósito de antiquário/decorador que museu. Faltam-lhe
conceito, critérios. Peças admiráveis entulhadas, afogadas por reproduções
escusáveis. Quem deve ter se encantado com as encomendas foram com certeza os
ateliês de reprodução dos arredores de Florença. Haja David, Vênus de Milo e
outros clichês da estatuária ocidental! Tudo muito branco, lavado a Omo.
Como
se não bastasse, uma falta tremenda de informações, sem contar os erros. Santo
Antônio em vez de São Domingos de Guzmão. Criselefantinas, provavelmente de
Chapirus, relegadas sem qualquer referência. Dos Gobelins somente um de grande
qualidade, e uma constrangedora apresentação de figuras de cera, motivo da
suposta eleição popular do museu como o melhor da América Latina.
É fazer pouco
do Museo del Oro de Bogotá ou do Antropológico de México. Estamos aqui mais
perto de Disneyland que da Wallace Collection. Sem sair de Recife e sem
hesitação, fico com a casa de Gilberto Freyre e o Museu do Homem do Nordeste.
Resta o fato
que no Pernambuco ainda existe mecenato, enquanto aqui, na Bahia, o último
mecenas faleceu em 1949. Chamava-se Carlos Costa Pinto. Hoje, os eventuais
postulantes ou fazem marketing rasteiro ou estão presos.
adorei o artigo!
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