quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O TALEBAN E A MÚSICA

Escola afegã de música desafia Taleban

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Ahmad Naser Sarmast, diretor do Instituto Nacional de Música do Afeganistão, em 2013; ele foi alvo de um atentado suicida do Taleban (Subel Bhandari/Associated Press)  

CABUL, Afeganistão — A princípio, não ficou claro quem era o alvo do homem-bomba do Taleban que havia se infiltrado na apresentação musical. A plateia estava repleta de diplomatas e afegãos proeminentes, e o homem conseguiu chegar até a primeira fila, onde se explodiu.
Ahmad Naser Sarmast, diretor do Instituto Nacional de Música do Afeganistão, estava a poucos assentos da explosão e ficou gravemente ferido. Mais tarde, o Taleban disse que ele era o alvo.
A facção islâmica estava irritada com uma peça estudantil, parte daquela apresentação, que criticava seus atentados suicidas.
Um ano mais tarde, Sarmast –que toca e leciona trompete e piano, além de dirigir a escola– ainda não está totalmente recuperado. Ele ficou parcialmente surdo, uma lesão que pode inviabilizar sua carreira de um músico, e estilhaços ficaram alojados em seu cérebro.
Uma cirurgia restaurou a audição do seu ouvido direito, mas, no esquerdo, ele ficou com apenas 20% a 30% do funcionamento normal. Os médicos esperam que esse ouvido se cure naturalmente. Se isso não ocorrer, ele deverá ser submetido a outra operação, na Austrália.
No entanto, nada disso afetou a movimentada agenda de apresentações da escola, e Sarmast voltou ao trabalho semanas depois do atentado. Ele transformou o instituto em uma organização renomada, e os conjuntos formados por seus alunos se apresentam no mundo todo —do Carnegie Hall, em Nova York, ao Festival de Cinema de Sydney, na Austrália. No ano passado, a escola ganhou um prêmio de inovação educacional da Unesco.
A escola é mista. O uso de lenços sobre a cabeça é opcional para as meninas. Talvez seja a única escola do Afeganistão onde moças e rapazes convivem nas salas de aula e nos conjuntos musicais. A maioria dos alunos recebe bolsas, e os mais pobres recebem ajuda financeira da escola, uma das inovações de Sarmast. As bolsas que ele distribui são suficientemente altas para desestimular as famílias dos alunos a colocá-los para trabalhar nas lavouras ou para mendigar nas ruas.
Após o atentado suicida, Sarmast voltou todas as suas energias para tornar a escola segura. Agora há torres de vigilância, e um cômodo foi transformado em uma sala de controle de segurança, com telas de vídeo para monitorar a área.
O concerto noturno atacado pelo Taleban era parte da Academia Musical de Inverno, uma iniciativa da escola que oferecia concertos semanais abertos ao público. Aparentemente, algum dos convites, que eram amplamente distribuídos, foi parar nas mãos do Taleban.
Sarmast decidiu transferir as apresentações da noite para a hora do almoço e, em vez de convidar diplomatas e socialites para os concertos, passou a chamar órfãos e crianças de campos de refugiados.
“O que poderia ser melhor?”, disse Sarmast. “Essas são as pessoas mais privadas de música na nossa sociedade. E elas adoraram.”

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