quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CALÇADA DO PORTO DA BARRA

PARECER SOBRE PROJETO DE REFORMA DA CALÇADA DO PORTO DA BARRA
Ordep Serra

Praça da Sé. projeto de Juarez Paraíso.
Destruído na gestão de Antônio Imbasshy.

Vamos começar nosso arrazoado por uma consideração básica. Uma paisagem urbana que alcança reconhecimento de sua beleza e de sua significatividade, não apenas em âmbito local, mas ainda além, conferindo a um sítio amplo prestígio, integra o patrimônio de um povo; deve ser protegida, jamais adulterada pelos governantes. 
Os elementos que compõem a paisagem urbana se organizam em uma sintaxe que é decisiva para a apreciação do conjunto. Considerar o Forte de São Diogo, o Forte de Santa Maria e o Farol da Barra (Forte de Santo Antônio) como monumentos isolados, como “ilhas” em um vazio, esquecendo seu entorno, contradiz o espírito da legislação pertinente ao patrimônio cultural. 
Desrespeitar os componentes do arranjo espacial que os liga um ao outro é tirar-lhes o valor de monumentos, é degradá-los. Um monumento vem a ser degradado não apenas quando se compromete sua visibilidade ou se descuida de sua manutenção; também é desqualificado quando o espaço que os emoldura ou flanqueia sofre intervenção desfiguradora, como está acontecendo. O conjunto formado por esses fortes e a linha de calçada que os interliga na orla construída, com a correspondente balaustrada, é um conjunto monumental. 
Esse conjunto deve ser respeitado: há que levar em conta o valor estético da paisagem como um todo. O passeio que limita a orla construída na Barra, dando acesso à praia através de escadarias, tem inegável importância estratégica para a composição da paisagem. A alteração das balaustradas ou do piso pode afetar o conjunto de maneira negativa, como está sucedendo. 
Elevando-se o piso, as balaustradas evidentemente “diminuem”, pois uma proporção é quebrada. E o piso do passeio, no trecho entre o Farol da Barra e o Forte de São Diogo, também tem um valor pictórico que afeta o conjunto. Tirar-lhe esse valor pictórico, que é garantido pelo arranjo das pedras portuguesas compondo um desenho característico, é subtrair qualidade estética à composição da paisagem da orla da Barra. Mais do que isso: o arranjo tradicional da calçada é um componente estilístico do conjunto. 
Merece a proteção devida à memória arquitetônica do mesmo. Desfigurá-la é atentar contra a integridade de bens reconhecidos como significativos para o patrimônio nacional.

Um comentário:

  1. Importante, necessário comentário de Ordep Serra. O que dizer da palavra SALVADOR em letras-cubos enormes na frente do Farol da Barra e do Elevador Lacerda? Ah tristeza. O pior é que há muita aprovação destas feiuras todas. Patético espetáculo.

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