Terça-feira
12 de Janeiro, 5:30 (de relógio!).
Após uma noite mal dormida, Emília foi
acordada pelas insistentes pancadas a sua porta. Assustada, descalça e
despenteada, foi abrir.
“Tem que tirar imediatamente seu carro da calçada ou
mandamos rebocar!” Os dois caras não estavam para brincadeira.
“Meu Deus, já é
2 de julho? Dormi tanto assim?”.
Gargalhada de desprezo no passeio.
“Não moça. Vamos filmar!”
Mais uma vez
o bairro de Santo Antônio será a vítima de mais uma equipe de televisão ou de
cinema com seu séquito de assessores de camiseta preta, falando em caixinhas pretas
nas suas mãos, fazendo grandes gestos de Não pode! Os reis do pedaço. Só faltam
as coroas.
Avisaram na véspera? Que nada! Aqui só mora gentalha! Falam que tem
autorização da prefeitura. Você viu o papel timbrado? Pois eu também não! E
mesmo que tivesse, será que acordar a gente a estas horas pode?
Não existem
leis para proteger o cidadão da ditatorial mediocridade televisiva? Alguém pode
me impedir de voltar correndo a minha casa para tirar água do joelho só porque
alguma guri tatuada com megafone na boca mandou parar a rua? Dá vontade de usar
o tal de megafone como urinol só para saberem com quem não estão falando!
Mas tudo tem
seu lado bom. De repente vejo com meus olhos vejo Carlinhos Brown o próprio
(reconheci por causa do turbante e dos óculos) a ser filmado na frente de minha
casa. Adivinharam minha alegria! Oba! Vou ficar famoso a la Warhol por um longo
meio minuto de intervalo comercial, nem que seja por causa da fachada de minha
casa!
Assim, quando alguém quiser me visitar, a referência será fácil: “É a
casa cuja fachada foi filmada no comercial do Carlitos Marron”. A partir de
hoje, todos os sonhos me são possíveis... Ainda irei para a distribuição do
Oscar em Hollywood, sentado bem perto da Angelina Jolie!
Afinal a-do-ro que
venham aporrinhar meu quotidiano com suas proibições, seus caminhões, policiais
e câmeras mil!
carro em cima da calçada, não dá, independente de filmagem tem que tirar!
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