MALU FONTES
Na mesma semana em que um ator baiano (Wagner Moura) pisou no red carpet do Globo de Ouro, disputando um dos mais importantes prêmios da dramaturgia dos Estados Unidos por interpretar o lendário traficante colombiano Pablo Escobar na série Narcos, um Escobar atualizado, o mexicano El Chapo, foi recapturado após a segunda fuga cinematográfica de uma prisão de segurança máxima. Dessa vez, a perspectiva é que seja extraditado para os Estados Unidos, onde é mais desejado pela Justiça que o indiciamento de Lula pelos tucanos.
El Chapo, Joaquín Gusmán Loera, era o mais procurado, o mais temido, e ainda é o mais valioso e o mais rico megatraficante do mundo. Sua fortuna ultrapassa um bilhão de dólares e, se vivo fosse, Escobar experimentaria o recalque com o beijinho no ombro de Chapo, um concorrente tão adjetivado e que até na hora de ser recapturado o foi literalmente de mãos dadas com Hollywood. A imagem do aperto de mãos entre ele e o ator Sean Penn entrou para os anais do jornalismo, feito proporcionado pela revista Rolling Stone, uma bíblia da imprensa pop-rock dos Estados Unidos.
TROCADILHO
Quando preso ou foragido, El Chapo foi mordido pela mosca azul da fama, de uma fama para além das fronteiras do narcotráfico. Movido por isso, fez chegar a Penn a mensagem de que queria um encontro com o ator. O objetivo do traficante com esse diálogo era realizar um sonho desses pequenininhos: queria sua vida transformada num filme de Hollywood. Nem Escobar ousaria tanto.
O diálogo entre Penn e Chapo, intermediado pela atriz mexicana Kate Del Catillo, resultou em depoimentos de mais de sete horas, incluindo gravações em vídeo e fotografias, tudo devidamente acatado previamente pelos ávidos editores da Rolling Stone, que, como quaisquer outros, viram nessas conversas um furo jornalístico inegável, capaz de transformar a fala, de viva voz, de um criminoso tão emblemático em um trocadilho infame, mas concreto, quanto ao interesse de leitores de todo o mundo ocidental: ouro em pó.
NARIZES
Assim, El Chapo foi preso na sexta passada e, no sábado, a revista lançava a grande reportagem, assinada por Sean Penn, sobre o chefe de tráfico mais caçado do mundo. O feito pautou a imprensa do mundo inteiro e levou o The New York Times a, na edição de ontem, não poupar espaço para dar repercussão ao caso. A partir daí, a coisa descambou literalmente para um caso hollywoodiano. Parte dos leitores acha que Chapo foi preso porque Sean deixou pistas para a polícia mexicana ir no seu encalço. E, se assim foi, os herdeiros do pó de Joaquín não perdoarão e não deixarão o ator vivo. Já outra parte considera o próprio Penn um criminoso, por relacionar-se com um traficante internacional foragido e não o denunciar. Por isso, deveria ser preso.
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