Começou mal, ao receber e-mail de uma destas mulheres
sorridentes e decididas que são ótimas para conversa de coquetel, mas só se dão
com gente muuuito rica.
Um casal que encontrara num jantar em NY vinha a
Salvador e precisava de informações. Para tanto, nada melhor que nosso graaande
amigo – coisa que nunca fui – para desvendar tooodos os segredos desta cidade
impar. “Vão ser recebidos pela socialaite Leyde Slack que já colocou a
disposição um carro muuuito confortável com o motorista Ronaldo que conhece ab-so-luta-mente
tuuudo da capital”.
Em anexo, o programa já elaborado. Tão imbecil que respondi
sem rodeio “Definitely terrible”. Sugeri uma das guias mais conceituadas da Bahia.
Seguiu-se
um rosário de perguntas num tom entre charmoso e autoritário. Sobre o Balé
Folclórico da Bahia, precisavam saber exa-ta-men-te o que era.
Declarando-se
colecionadores, de museus não quiseram nem ouvir falar. Abaixo do Reina Sofia,
Orsay e Arsenal de Veneza, nada existe.
Queriam, sim, nomes de grandes
restaurantes e até condescendiam em me convidar para um drinque no Deluxe Hotel,
a vinte metros de minha casa. Honra a qual nem respondi. Passei da idade de
aceitar meios-convites.
Falei á guia para evitar que viessem a minha casa, mas ela
tanto fez que me vi forçado em abrir a porta. Casal nota dez.
O homem alto, elegante,
já coroa, com cabelo discretamente “dourado” por especialista caprichoso.
Ela,
ainda nos seus 30, loira e esguia, vestida como para fazer compras na Avenue
Montaigne ou na Madison. Imitando Machado de Assis ao colocar (injusta)
restrição a uma donzela só porque era coxa, eu diria que a gringa tinha, a meu
ver, um defeito re-di-bi-tó-rio. Ostentava no ombro uma enooorme bolsa LV.
Acontece que tenho horror a qualquer peça de roupa que evidencie a etiqueta de
qualquer fabricante. E esta em particular. Adoradas pelas japonesas, as tais bolsas
são vistas na França como diploma de nouveau
riche.
Mulher com classe nunca usaria. Assumindo meus preconceitos, consegui
colocar eles para fora de minha casa em dez minutos.
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