Em 2016
entrarei de fininho na oitava década de minha vida.
Coisa mais chata! Ao
contrário do vídeo de Juca Chaves, nada acho de sedutor na mal-dita “Melhor
Idade” quando, num tom poético-jocoso, desfilam imagens de velhos branquelos (negro
não entra neste paraíso da eterna juventude) com sorridentes dentaduras Colgate,
roupa leve e alva Omo, biritando longíssimos drinques de novela da Globo,
pulando de alegria em colchão Ortobom ou correndo em verdes campos da Monsanto...
Claro, lá
bem no fundo, não deixei de ser o adolescente que fora na longínqua primeira
metade do século XX. Mas quem mandou as ladeiras ficarem cada dia mais
íngremes, os degraus de minha escada toda hora mais numerosos? Quem me
convenceu a preferir a sombra dos intermináveis corredores do Santa Izabel à
dos coqueiros nas infinitas praias de Boipeba? Quem me obriga a engolir cinco
comprimidos ao extirpar-me da cama e mais dois antes dela me engolir, em vez de
um bom whisky e twist no Van Gogo de Cascais ou no parisiense Chez Régine até
de madrugada? Quem me obriga a escolher sapatos folgadões, sempre com salto, em
vez dos Rosseti ou Gucci de meus trinta anos?
Passei dias inteiros torrando ao
sol de Biarritz, Estoril e Tanger. Hoje vou periodicamente mostrar as manchas
de minhas pelancas ao Dr. Newton. Lembro até com saudade da primeira obturação,
anestesia inexistente, aos 16 anos, nutrição deficiente por causa da guerra. Se
neste novo milênio raramente vou ao dentista, nem preciso dizer por quê.
Frustrações,
sim. Por não ter sido surfista, repassando baseado na areia dourada, cabelão ao
vento, bermudão largadão, tatuagem maori na batata da perna. Por preferir
hula-hoop ao hip-hop. Por curtir Mozart e me assustar com heavy metal numa rave
doidona. Pulsões de adolescente, sim. Mas a cabeça é de quem nasceu antes da era
da televisão. A melhor idade? Uma ova! A
melhor idade é aquela que passou e não mais voltará.
O resto é conversa fiada.
Muito bom!!
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