Uma lancha estava ancorada no Porto da Barra ao entardecer do sábado.
Ao nadar, tangenciei-a e pude observar um homem branco, 40 anos, barriga proeminente, sunga e boné, em pé na embarcação, pernas abertas para manter o equilíbrio, que se comunicava aos berros com seu amigo na água:
- Caralho! Porra Cara!
Lançou-lhe uma lata de cerveja que o amigo não conseguiu alcançar; e caiu no mar.
- Pega viado! – gritou.
Uma música estridente, confusa - som sujo e repetido, no qual predominava o ruído de latas sendo percutidas (arrocha? pagode?) -, a lembrar o latido de um cachorro doente, soava altíssima e distorcida.
O homem em pé na lancha gargalhava e zombava do amigo na água; arrumou o sexo dentro da sunga.
Os outros passageiros eram:
O marinheiro, um senhor negro de uns 55 anos, cabelos brancos, quepe e camiseta surrados, que olhava a cena com resignada serenidade. Certamente já a presenciara muitas vezes.
A mulher do proprietário, branca, loura (falsa ou verdadeira?), com algo de madona, algo de sinhazinha, no início de um processo de matronização, tranquilamente refestelada numa poltrona branca.
Ao lado dela, a babá, adolescente negra com trancinhas no cabelo, acalentava o bebê de colo que choramingava. Olhava o homem em pé com um sorriso de subserviência erótica.
Uma churrasqueira chiava a bordo. O varão apanhou um pedaço de carne e ia lançá-la ao amigo no mar, mas a mulher o impediu, segurando-lhe o braço:
- Não, bem! Não!
A casa-grande instalara-se numa lancha no Porto da Barra. Mas, certamente, com muito menos elegância.
Marcos A. P. Ribeiro
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