Presidente da Câmara
está a serviço de empresas
e virou obstáculo
ao ‘funcionamento das instituições’,
dizem procuradores.
Congresso e governo sabiam.
Fecharam os olhos
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) transformou a Câmara em um balcão de negócios e o seu cargo de deputado federal em mercadoria — afirmam procuradores federais no pedido ao Supremo para afastá-lo “do exercício de função pública". Justificam: remover dos cargos é a “forma de não lançar mão, num primeiro momento, de medida extrema (prisão cautelar)”.
O Ministério Público acha que o presidente da Câmara virou obstáculo ao "funcionamento das instituições", porque abusa da função pública “para evitar, a todo custo, a apuração de suas condutas". Significa que o segundo na linha sucessória age para obstruir a Justiça na condução dos processos em que é réu.
A decisão está prevista para fevereiro. Mas, se é assim, por que não pediram ao Supremo a imediata prisão de Cunha?
As regras constitucionais são claras sobre imunidade e proibição de prisão de parlamentares. Há 28 dias, porém, o ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral habita uma cela.
É sintoma de algo novo, traduzível na percepção de que “em nenhuma passagem, a Constituição permite a impunidade de quem quer que seja", lembra a ministra Cármen Lúcia em decisões recentes. Ou ainda, a certeza de que “haverá de haver remédio jurídico, sempre" para “doença que contrarie a saúde ética e jurídica das instituições", como escreveu o ministro Teori Zavascki ao mandar prender o senador petista.
Em 190 páginas, procuradores descrevem Cunha como um parlamentar a serviço de empresas. Favorece-as “em claro detrimento do interesse público". Em troca, recebe valores que partilha com os deputados associados.
Citam emendas a 11 Medidas Provisórias com prêmios a empreiteiras e bancos, principalmente ao BTG Pactual de André Esteves.
Congresso e governo sabiam e inúmeras vezes fecharam os olhos. Em maio de 2009, um grupo ensaiou uma rebelião contra emendas de Cunha, negociadas com o governo Lula, que mudavam o mapa dos negócios no mercado de energia elétrica: liberavam a estatal Eletrobras para gastar sem licitação, como a Petrobras.
— São muitas as denúncias da roubalheira na Petrobras, nessa diretoria internacional (tomada pelo PMDB) — protestou Fernando Coruja (PPS-SC). — Permitir licitação simplificada na Eletrobras é muito arriscado.
Humberto Souto (PPS-SC) fez coro: — É a desmoralização. É a instituição da propina.
O PMDB nomeou (Jorge Zelada para) a diretoria internacional da Petrobras! Imaginem: por que é que um partido tem de indicar um diretor internacional da Petrobras?
Fernando Gabeira (PV-RJ) arrematou: — Não estou pedindo que o relator (Cunha) saia daqui algemado, mas esse processo é ruim, perigoso, partindo de onde partiu.
Cunha só reagiu quando Ivan Valente (PSOL-SP) o acusou de “contrabandear” interesses privados: — “Contrabando” não fiz e não faria. Fiz a pedido do governo.
Seu projeto virou lei pela caneta do presidente Lula.
*José Casado é jornalista
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