Febre amarela urbana volta ao Brasil após 73 anos
Auxiliar de enfermagem morreu em julho, em Natal, mas só agora a necropsia confirmou a doença
Depois de 73 anos, o Brasil voltou a registrar a febre amarela urbana, considerada erradicada do país. A vítima, a auxiliar de enfermagem Rita de Cassia da Silva Santos, de 53 anos, morreu em Natal, no Rio Grande do Norte, no último dia 6 de julho, mas somente agora a secretaria estadual de saúde do Rio Grande do Norte notificou o Ministério da Saúde sobre o caso, após o resultado da necropsia. Até então, ele vinha sendo tratado como uma uma versão grave da dengue.
A paciente começou a se sentir mal no dia 28 de junho. No dia 2 de julho, ela foi internada numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e faleceu no dia 6. Somente no dia 24 de dezembro saiu o resultado da necropsia – dando positivo para febre amarela – , feita pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará e confirmada pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Segundo sua família, ela não teria viajado a nenhuma das regiões onde a febre amarela é considerada endêmica, como alguns países da América do Sul, da África e da América Central.
Segundo Otávio Olivo, epidemiologista e virologista da Fundação Oswaldo Cruz, especialista em febre amarela, o caso é grave e deve ser investigado. “A primeira coisa é investigar a família. Temos que nos assegurar que esta pessoa não viajou, nem tomou a vacina. Sendo febre amarela urbana, não será o único caso”.
A febre amarela urbana é transmitida pelo Aedes Aegypti, o mesmo mosquito da dengue. Segundo Olivo, de cada 100 casos de febre amarela, 50 não apresentarão nenhum sintoma, 30 terão sintomas leves, 20 terão icterícia, muitas vezes confundida com hepatite, e 10 terão a infecção grave. “É possível que existam mais casos e que os sintomas estejam sendo confundidos com os de outras doenças.”
Existem dois tipos de febre amarela: a silvestre, transmitida pela picada do mosquito Haemagogus, e a urbana, transmitida pela picada do Aedes aegypti. Embora os vetores sejam diferentes, o vírus e a evolução da doença são absolutamente iguais.
O último caso de que se tem notícia ocorreu em 1942, no Acre. Os principais sintomas são febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor muscular muito forte, cansaço, calafrios, vômito e diarreia, que aparecem, em geral, de três a seis dias após a picada (período de incubação). Para Olivo, porém, combater a febre amarela na época de Oswaldo Cruz era muito mais fácil. “Hoje a densidade populacional é muito maior, produzimos muito mais lixo e lixo que não se deteriora, muito plástico. Falta consciência ambiental na população. É uma batalha muito difícil”. Segundo ele, é fundamental o combate ao mosquito, vetor da doença. A vacina é o último recurso. O primeiro é ter um bom recolhimento de lixo e saneamento básico.
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