segunda-feira, 6 de abril de 2015

A MORTE ACORDA CEDO...

... e de AK-47 na mão
 
São seis e trinta da manhã aqui e oito e trinta da manhã no Quénia e a vida em Garissa terá posto o pé fora da porta há duas horas. Daqui a doze, às seis e meia da tarde de lá, quatro e meia da tarde de cá, a vida voltará esconder-se em casa, porque desce o recolher obrigatório sobre a cidade que percebeu que a morte usa AK-47 e explosivos à cintura.
É que a vida em Garissa tem as horas contadas desde as cinco e trinta da manhã de 2 de abril: um grupo de tipos do Al-Shabaab entrou na Universidade de Garissa e matou 148 pessoas (142 estudantes, 3 soldados e 3 polícias) em nome da sua religião e contra a religião alheia. Quatro desses terroristas foram mortos e os seus corpos expostos à multidão em carrinhaspick-up - um deles era um rapaz brilhante, filho de um dirigente político queniano; outros cinco foram detidos e há ainda um último que tem a cabeça a prémio.

Numa versão dispensável da teoria do karma, o presidenteUhuru Kenyatta engoliu as críticas feitas na véspera ao Reino Unido e à Austrália, por porem alertas à segurança nos vistos. Chamou-lhes “colonialistas” e disse-lhes para verem o que era a vida no Quénia – leio na Newsweek que há uma lei que proíbe os media quenianos de passarem imagens que instiguem o “medo” no público. Pior - Garissa era tido como um lugar seguro, por estar fortificado e a 200 quilómetros da Somália.

Sucede que os países têm fronteiras que a violência não tem. E, na Síria, o Estado Islâmico já controla 90% do campo de refugiados de Yarmourk, onde vivem palestinianos a oito quilómetros de Damasco. A situação é dramática – “uma afronta à humanidade”, diz a ONU -  e já pôs o exército sírio lado a lado com milícias da Palestina para combater os radicais islâmicos. Há pelos menos 18 mil pessoas dentro de Yarmourk.

E no Iraque (lembra-se do que lhe disse sobre fronteiras?) há mais de 2 mil anos de história em Hatra que continuam a ser apagados à marretada e a tiros de kalashnikov pelo Estado Islâmico. Coluna a coluna, estátua a estátua, pedra a pedra, vemos um pedaço da humanidade reduzido a pó – e depois a nada. E tudo o que fica são 42 segundos de imagens tiradas por um drone.

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