Laboratório sob suspeita pagou R$ 7,8 milhões por consultoria do ex-ministro José Dirceu
Só em 2013, ano do contrato investigado, EMS repassou à JD Assessoria R$ 1,8 milhão
POR MARIANA SANCHES E GERMANO OLIVEIRA
SÃO PAULO - O laboratório farmacêutico EMS, investigado na Operação Lava-Jato por parceria feita com a Labogen — empresa ligada ao doleiro Alberto Youssef — para obter um contrato no Ministério da Saúde, foi a entidade que mais pagou pelos serviços de consultoria do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Entre 2009 e 2014, a JD Assessoria recebeu R$ 7,8 milhões da EMS. Em 2013, ano do contrato investigado, R$ 1,8 milhão.
A parceria entre o EMS e a Labogen seria para fornecer ao ministério medicamento com o princípio ativo citrato de sildenafila, usado para combater a disfunção erétil, e renderia às empresas R$ 134,4 milhões em cinco anos. Em 2013, de acordo com investigações da PF, o deputado federal cassado e ex-petista André Vargas fez gestões junto à cúpula do Ministério da Saúde para a realização da parceria, que, no entanto, acabou suspensa tão logo surgiram as primeiras denúncias de corrupção, no início de 2014.
Em depoimento à Justiça, o empresário Leonardo Meirelles, da Labogen, afirmou que vinha tentando participar do programa de parceria com o Ministério da Saúde desde 2010, mas que a situação só se resolveu a seu favor com a “entrada no jogo” de Vargas. No depoimento, ele afirmou que passou a ter reuniões com o então diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Jorge Valadares Oliveira, que, para o delator, atuaria dentro do ministério “na defesa dos interesses da EMS”.
Intercepções de mensagens eletrônicas de Meirelles e seus sócios mostram que a parceria entre Labogen e EMS foi imposta pelo Ministério da Saúde.
Por meio de sua assessoria, Dirceu negou ter intermediado qualquer negócio da EMS com o Ministério da Saúde. “A JD Assessoria e Consultoria informa que prestou serviços à EMS na prospecção de negócios nos mercados de Cuba e Portugal”.
Já a EMS informou que não chegou a receber nenhum valor do ministério, uma vez que a parceria acabou não sendo celebrada. A pasta, por sua vez, disse que a sindicância administrativa interna não encontrou irregularidades na negociação entre as empresas.
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