ROGÉRIO ARAUJO
DESCENSUS AVERNUS FACILIS EST! (É fácil descer ao inferno)
Viver no Brasil tem sido uma longa e inexorável descida em direção ao inferno! E essa descida não termina nunca!
Ontem foi a professora fuzilada em frente a uma padaria porque tentou salvar seu filho; hoje foi a dona de casa linchada “por engano” por uma multidão enfurecida que achou que estava fazendo justiça contra uma feiticeira que sacrificava criancinhas em rituais de magia negra...
Anteontem, em um estádio de futebol, jogaram um vaso sanitário em cima de um rapaz que morreu na hora; na semana anterior foi a mulher arrastada por um carro da polícia; no mês passado foi o menino de quatro anos morto a pancadas pelo próprio pai que desconfiava de sua masculinidade; antes dele foi o adolescente de 15 anos, morto também a pancadas, porque suspeitavam de que ele tirava fotos de crianças: confundiram-no com um pedófilo!
_ Mas como?! Você está se esquecendo do menino de 11 anos que foi morto envenenado e enterrado em cova rasa pela madrasta com o auxílio, suspeita-se, do próprio pai??!”Como pôde esquecer-se do assassinato da funcionária da UFBA, ou da outra professora, em Itapuã?!
As chacinas nos bairros populares, nas periferias? Não podemos falar deles: são inúmeras e seus mortos quase sempre anônimos... Não admira que se mate por cinco reais: pessoas que sabem que no fundo nada valem, não dão valor à vida de outras pessoas! Os acorrentados aos postes de luz não podem retribuir a violência senão com mais violência!
A vida humana NADA vale em nosso país!
E o medo? O medo que nos tranca em casa, que nos aprisiona atrás de jaulas, que nos envolve a cada vez que ligamos para um parente, para um amigo e que ele demora a atender? E o pavor que toma conta de pais e mães que não sabem onde estão seus filhos? É preciso avisar quando sai; é preciso anunciar quando chega.
Ou a indiferença que toma conta de todos nós a cada vez que tomamos conhecimento de mais um crime, de mais uma morte... A passividade com que lidamos com fatos escabrosos parece ser decorrente do uso de um poderoso anestésico!
Ah! E como gritamos, e nos indignamos contra o aloprado que nos dá uma fechada... ou contra a louca que nos corta o caminho na rua... Por que o trânsito, onde morrem mais pessoas por ano do que na guerra do Vietnã, é o nosso ringue de Vale Tudo... Todos os demônios podem ser liberados quando as pessoas estão atrás de um volante, protegidos pela couraça de uma máquina de morte! Que humanidade miserável engendramos nesse país!
Como bem disse Dante: É fácil descer ao inferno... Difícil é sair dele!
Meus amigos, acautelemo-nos enquanto ainda há tempo, para que as chamas desse inferno não nos lambam os pés ainda em vida! É tempo de encontrarmos o caminho de saída desse poço em que nos encontramos. Eu não tenho soluções; somente angústias! E um desejo: o de que consigamos, o mais rápido possível, sair desse mar de sangue em que estamos antes de nos afogarmos!
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