Sabe aquele nosso vizinho ao qual costumamos nos referir pejorativamente, como território da muamba, dos produtos falsificados, do contrabando sem controle, das sacoleiras e da famosa - la garantia soy yo? Sim, aquele pequeno país de 6,5 milhões de habitantes, terra do guarani e das guarânias harpejadas, do ex-bispo e ex-presidente Lugo que tinha filhos não assumidos pelo país afora, Paraguai que um dia no passado já estivemos em guerra e que hoje compartilhamos a energia de Itaipu. Pois é, os paraguaios estão dando lições de cidadania, civismo, ética e abriram guerra à impunidade de políticos corruptos. Na América “latrina”, região do planeta onde os exemplos de democracia são péssimos, sopra de lá em nossa direção, algo mais que uma frente fria e uísque falsificado.
Uma frente de esperança e uma ideia brilhante!
Na semana passada, embalados pelas redes sociais, a sociedade civil paraguaia decidiu iniciar um inédito protesto.
Explico melhor, 23 congressistas, votaram contra a perda de imunidade do senador Victor Borgado, que foi denunciado pela justiça por contratar com dinheiro público, a babá dos seus filhos. Até aí nada de diferente do que estamos acostumados por aqui. Já pagamos coisa muito pior, como: pensão para filho de amante de deputado, mesada para parlamentares votarem com o governo - o mensalão, despesas ilimitadas com cartão de crédito para família de presidente, gasolina de helicóptero que traficava cocaína, tapioca para ministro, passagens aéreas para congressistas viajarem de férias, caronas para sogra de governador, para amiga de presidente e otras cositas mas.
De diferente mesmo foi o desfecho do caso da “babá de ouro”, como ficou conhecido o episódio do senador Borgado. Pelas redes sociais os paraguaios começaram uma onda de protestos bem humorados. Através do Facebook e de um aplicativo de celular chamado,” Quem eu escracho?” com fotos e detalhes dos lugares frequentados pelos 23, o que ajudava a identificá-los, começou a perseguição.
O rastilho desse movimento multiplicou-se levando ao enxotamento dos congressista de ambientes aos gritos de “fora ladrão!” A irada expulsão de uma senadora, do salão de beleza Rommy, frequentado pelas moças e senhoras da alta sociedade de Assunção foi o estopim. Aos berros e xingamentos ela foi enxotada do local, com o cabelo ainda coberto de tintura e o rosto recheado de creme. O movimento chamado de “escraches”- ou seja xingamentos e gritaria diante dos políticos, se ampliou. Mais de 200 estabelecimentos comerciais aderiram, de pet shop a Pizza Hut, e proibiram a entrada dos congressistas que protegeram o coleguinha. Lojas, bares, restaurantes, supermercados, cinemas, frentistas, taxistas, médicos e até hospitais resolveram não oferecer mais seus serviços aos políticos, que votaram contra a perda de imunidade do senador corrupto. A vida desses nobres parlamentares virou um inferno.
Execrados quando estavam fora de casa ou do Congresso, eles tiveram que ceder. Voltaram atrás e acabaram com a imunidade parlamentar do senador da babá de ouro. Bingo! Políticos corruptos 0 x 10 povo paraguaio. O ovo de Colombo já estava de pé!
“- A partir desse episódio, temos meios para combater a corrupção, disse Derlis Peralta, um dos organizadores do movimento via Facebook. A vida deles jamais será a mesma”.
Acabou, pelo menos no Paraguai, aquela sensação de impotência de se sentir, roubado, enganado, e ainda ver nossos algozes rindo por baixo dos bigodes e cabelos pintados, no maior cinismo. Lembro que o Paraguai não tem mar, imaginem por aqui um “achincalhe” geral nas praias frequentadas pelos corruptos?
Sugiro, nós “contrabandearmos” a ideia original de lá, sem “falsificá-la”. Hoje na corrida contra a corrupção, somos o cavalo paraguaio. Viva el Paraguay!
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