segunda-feira, 26 de maio de 2014

VOCÊ JÁ FOI AO CEARA? NÃO? ENTÃO VÁ

Paulo Ormindo de Azevedo

Nenhum estado brasileiro foi mais deserdado pela natureza do que o Ceará. Cerca 93% de seu território está no Polígono das Secas. Raquel de Queiroz fez seu “debut” na literatura com o romance “O quinze” em que conta o horror da seca de 1915. Hoje aquele estado é um dos mais desenvolvidos do Nordeste com uma enorme classe media que enche os restaurantes e as lojas durante toda a semana. Fortaleza é o município com maior PIB do Nordeste e o Ceará o estado com a melhor qualidade de vida do Norte e Nordeste. Pude comprovar isto há algumas semanas quando fiz ali uma palestra no XX Congresso Brasileiro de Arquitetos. 
Em grande parte isto se deve ao trabalho desenvolvido ao longo de 105 anos pelo DNOCS. Hoje o estado tem 144 açudes para irrigação e abastecimento urbano e só os trinta maiores tem capacidade de 19 bilhões de m³, mais da metade de todo o Nordeste. O maior deles, o Castanhão, tem 6 bilhôes m³ e o maior da Bahia, Cocorobó, construído para afogar Canudos, não passa de 245 milhões. A outra razão foi a opção pela pequena e media empresa, como confecções, sapatarias e lavouras de algodão e caju, que geram mais emprego que as grandes. O Mercado Central de Fortaleza é uma mostra da força dessa economia popular. Ao DNOCS se somou o Banco do Nordeste, que tem realizado uma serie de estudos e financiado prioritariamente o desenvolvimento daquele estado. 
Pernambuco, por seu lado, é sede da Fundação Joaquim Nabuco, da Sudene e da Chesf. Essas instituições são responsáveis pelo pensamento e financiamento de grandes projetos. Nossos políticos nunca conseguiram atrair para a Bahia nenhuma grande agencia federal e perdemos todos os bancos, públicos e privados, temos apenas uma repassadora de recursos federais. Os nossos governantes não gostam de planejamento, preferem o clientelismo fisiológico. Cada nova gestão, interrompe os projetos iniciados pela anterior e não consegue concluir os seus. A Comissão de Planejamento Econômico criada por Rômulo Almeida teve vida curta, não obstante os enormes serviços prestados ao estado, com a criação do CIA e Copec. 
Os portos da Bahia estão saturados e ultrapassados. Pecém, no Ceará, é o porto nacional mais próximo da Europa e dos Estados Unidos. Em sua retroárea está sendo construída uma siderúrgica e em breve deve ser iniciada uma refinaria. O aeroporto de Fortaleza é o portão mais rápido e barato de ingresso no país e o turismo vem crescendo a índices elevados. Um “pirata” português resolveu abrir sua boate no dia de descanso de outras casas noturnas, a segunda feira, e é um sucesso estrondoso. Aproveitando essa onda turística está sendo inaugurado um aeroporto internacional em Aracati, onde se encontra a famosa praia de Canoa Quebrada. 
O PDDU da capital é desenvolvido pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza em estreita colaboração com a academia e discussão com as entidades de arquitetos-urbanitas e engenheiros. Um dos seus pontos altos é o Plano de Mobilidade que prevê três linhas subterrâneas de metrô e uma de VRT, além de BRT e ciclovias, já em execução. Para se livrar do superfaturamento das empreiteiras o estado comprou um tatuzão (TBM) para abrir os tuneis. A preocupação com a mobilidade não se restringe à capital. Duas linhas de VLT estão sendo construídas em Sobral e ligando Juazeiro do Norte a Crato. Um detalhe, os vagões dos metrôs e VLTs são fabricados no estado, sobre chassis importados. Os nossos PDDUs são malas pretas. Outra inovação do estado foi a criação do sistema de agentes de saúde. Nem tudo é uma maravilha no Ceará, mas se discute, se briga, e se decide participativamente. 
Estas observações, com grande recorte temporal, não são uma critica a nenhuma administração em especial, senão uma reflexão sobre as diferentes governanças dos estados. O exemplo do Ceará visa servir de estimulo e contribuição aos planos de governo e prioridades de ações que estão sendo elaborados pelos candidatos ao futuro governo. É fundamental criarmos um centro de planejamento e formação de lideres e quadros públicos para levantarmos a Bahia de seu berço esplêndido. 

SSA: A Tarde, 25/5/2014

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