sábado, 3 de maio de 2014

MALDITOS NORDESTINOS!

“Malditos nordestinos”: um filme de 1943 sobre São Paulo e um show de racismo e xenofobia


“Malditos nordestinos”: um filme de 1943 sobre São Paulo e um show de racismo e xenofobia
Os comentários dos paulistanos, no Youtube, são um festival inacreditável de xenofobia, 
racismo e obtusidade. É como se Danilo Gentili e Roger tivessem chamado sua turma para 
praticar luta-livre na lama
(Imagem: Reprodução/Youtube)
Um filme sobre São Paulo, feito em 1943,
 mostra belas imagens da cidade. 
Foi produzido pela extinta Coordenadoria
 de Assuntos Inter-Americanos, CIAA, 
durante os anos
 da política de boa vizinhança.
Chefiada por Nelson Rockefeller, 
a CIAA tinha a função, oficialmente, 
de estimular “a cooperação e a
 solidariedade hemisférica”. O objetivo era, na verdade, 
enfrentar a ameaça nazista e consolidar a posição dos EUA como superpotência.
 É uma peça de propaganda, tanto quanto o desenho “Saludos Amigos”, 
que a Disney fez sob encomenda. O Brasil tinha declarado guerra à 
Alemanha em 1942, mas só enviou tropas para a frente de batalha em 1944.
A São Paulo que aparece ali é uma pequena maravilha. Com “O Guarani” 
ao fundo, surge o centro, o Museu do Ipiranga, a Avenida São João e
 a Avenida Paulista com seus casarões. “Com 1,3 milhão de habitantes, 
Sáo Páolu é hoje a maior cidade industrial da América do Sul”.
Uma saída de fábrica da Pirelli lembra as comédias italianas de Mario Monicelli.
 O Instituto Butantan é uma das “várias instituições dedicadas à pesquisa 
científica”. Um desfile militar no Pacaembu. Deliciosas piscinas públicas. 
Os prédios em estilo art-déco. Um baile com uma cantora acompanhada
 de uma orquestra que parece uma das festas mal assombradas de “O Iluminado”.
“Refletindo o espírito de Ramos de Azevedo, o grande arquiteto, o paulista 
está construindo novas ruas, novos viadutos, túneis, apartamentos, avenidas,
 hoteis e hospitais”, diz o narrador.
A CIAA gastou 140 milhões de dólares em 6 anos e é visível, no curta, que não
 houve economia. A cidade retratada tem algo de fictício, mas o documento 
é precioso. É uma grande vila em crescimento, antes de ser desumanizada, 
ou a caminho de ser desumanizada, com bondes, bonita e sem nordestinos…
Epa.
O vídeo tem mais de 337 mil visualizações até agora. Evidentemente que 
muitos paulistanos deixaram seu parecer. E é um festival inacreditável de 
xenofobia, racismo e obtusidade. É como se Danilo Gentili e Roger tivessem 
chamado sua turma para praticar luta-livre na lama. Uma amostra:
“Emigrantes principalmente do nordeste vivem falando que construíram 
São Paulo. Grande mentira, os imigrantes estrangeiros e nós, paulistanos, 
construímos São Paulo e porque crescemos muito, eles emigraram para cá.”
“Chora mais, e vá alisar esse seu cabelo ruim, macaco.”
“Acredito que boa parte dos problemas de SP tem relação com essa migração
 descontrolada…O Brasil é um país muito grande de culturas diferentes… que
 acabam não se adaptando e causando transtornos irreparáveis.”
“A maioria de nós, paulistanos, somos muito patriotas… Tenho grande respeito
 pelos nordestinos, pois são trabalhadores. Mas eles vêm para SP invadindo 
serras, construindo favelas, onde destroem as matas e deixam a cidade feia. 
Os nordestinos vêm em busca de emprego, mas quase não encontram…
Depois saem da cidade falando mal de nossa terra.”
“A única coisa que os nordestinos construíram em São Paulo é Heliópolis.”
“Nossa cidade esta cheia de favelas por causa dos malditos nordestinos!!”
“E tem mais, o problema não passa apenas pelos nordestinos em si, todos 
sabemos da elevada taxa de ”procriação” desse povo, pois bem estamos 
presenciando o surgimento de uma linha de nordestinos ‘made in sum paulo’”.
E um longo etc.
O YouTube tenta, há algum tempo, criar mecanismos que inibam esse tipo 
de comportamento. Nada deu muito certo até agora. O site de notícias falsas 
The Onion publicou uma “reportagem” sobre o baixo nível de comentaristas
 do YouTube. Segundo o Onion, a sede da empresa no Vale do Silício explodiu 
em aplausos depois da trilionésima manifestação racista. “Quando criamos o 
YouTube, em 2005, sabíamos que ele tinha o potencial de revolucionar a forma
 como as pessoas fazem observações altamente ofensivas”, disse o CEO
 Salar Kamangar. “Estamos realmente impressionados com nossos usuários
 dedicados e extremamente ignorantes, que fazem declarações abjetas todo dia.
 Obrigado”.
Confira o vídeo:

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