SÃO PAULO — O ano é 1997. Luiz Inácio Lula da Silva ainda sonha ser presidente. Os petistas se reúnem, em seu XI Encontro Nacional, no antigo Hotel Glória, no Rio. De calças justas e um cinto largo, com detalhes em metal, Rosemary Noronha cruza o saguão aos gritos. Vai ralhar com um repórter que, inadvertidamente, recolhera de uma mesa cópias das teses que seriam debatidas pelo partido.
Rose, como é conhecida, tinha a função de secretária da presidência do PT, na época exercida por José Dirceu, recém-condenado a dez anos e dez meses de prisão no escândalo do mensalão. Foi para Dirceu que ela ligou, na manhã do último dia 23, para pedir ajuda, quando a Polícia Federal amanheceu em sua casa para fazer uma busca ao deflagrar a Operação Porto Seguro.
Dirceu ficou furioso, contaram seus interlocutores. Rose ligou, também, para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para reclamar que os agentes da PF haviam entrado na residência e estavam recolhendo papéis, computadores e o que mais parecesse suspeito. Cardozo não atendeu.
— O que ela esperava? Que nós fôssemos parar porque ela estava falando com o nosso chefe? — ironiza uma delegada da Polícia Federal.
Rose podia mesmo esperar que o ministro a ajudasse. Desde os tempos de secretária do PT, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo coleciona desafetos porque reina, ou tenta reinar, absoluta nos bastidores do enclave petista. Tem relação muito próxima com o ex-presidente Lula.
Em agosto de 1997, uma cena de gentileza explícita de Lula chamou a atenção em um ensaio da Mangueira, do qual participava a cúpula petista. Servido pelo garçom, Lula se levantou da mesa onde estava para levar uma bandeja de salgados até Rose.
Desde 2003, quando foi nomeada por Lula para trabalhar na Presidência, Rose fez 24 viagens ao exterior na comitiva presidencial. Ela tinha direito a passaporte diplomático. A volta ao mundo não impediu que quase brigasse com Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) acusado de chefiar a quadrilha de corrupção e tráfico de influência. O motivo da discussão foi simplório: ela queria fazer um cruzeiro entre Santos e Rio com a presença da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
No gabinete da Presidência, Rose foi ganhando cada vez mais espaço. Gostava de ser chamada de “madame”, de dar ordens e de usar coisas que considerava chiques. A ex-bancária, hoje com 57 anos e duas filhas, adorava ostentar poder. Arrumava confusão com porteiros e seguranças do prédio do Banco do Brasil onde fica o escritório da Presidência.
“Ela acha que manda”
Rose ganhou o cargo após a saída de um dos aliados de Lula, José Carlos Espinoza. Se, como secretária do PT, gritava com repórteres, como chefe de gabinete chegava até a passar pito em ministros. Em uma cena dessas, em que tentou impedir que um ministro próximo de Lula fizesse uma reunião em determinada sala, ouviu-se do ministro:
— Ela acha que manda.
Se os petistas temiam Rose por sua proximidade com o poder, hoje temem falar sobre a ex-chefe de gabinete.
— Ela é arrogante. Acha que manda mais do que manda. É insuportável — reclama antigo funcionário do PT, que prefere não se identificar.
Nos e-mails interceptados pela PF na operação Porto Seguro, Rose faz questão de mostrar influência a Paulo Vieira, que, segundo ela, é seu amigo há dez anos. Cita PR (presidente da República, como chama Lula mesmo depois do governo Dilma) e JD (José Dirceu).
No prédio onde mora, no bairro Bela Vista, em São Paulo, os vizinhos a consideram uma pessoa discreta.
Um deles diz que ela “se acha porque anda com o povo de Brasília”. Quando começou no cargo de secretária no PT, nos anos 1990, a ex-bancária era mais dócil.
Nos e-mails trocados pelos irmãos Vieira, indiciados pela PF, há muitas reclamações contra Rose. Ela é descrita como “uma máquina de gastar”.
Em nota divulgada na quinta-feira, Rose afirmou que é inocente e que nunca fez nada ilegal ou irregular que favorecesse Lula ou Dirceu.
A Revista Época deste sábado afirma que Rose frequentemente se apresentava como “namorada” do ex-presidente Lula para conseguir negociar assuntos de interesse privado.
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