domingo, 16 de dezembro de 2012

DOIS AMORES


J´ai deux amours...” cantava com sua voz de rouxinol a mágica Josephine Baker nos anos 30. Quase um século mais tarde, recupero a canção para falar dos dois restaurantes que mais freqüento no centro histórico de Salvador. 
Um deles, verdadeiro bistrô, me é familiar desde 1980. Escondido na rua Ruy Barbosa que, próxima à Rua Chile, já teve sua hora de glamour, é o Mini-Cacique. 


Não adianta desfilar com bolsa LV ou terno HB. A freguesia é composta por quem trabalha na área. Advogados, arquitetos, políticos, jornalistas, artistas e poetas.  Vez ou outra aparece o Emanuel Araújo, chapéu branco sempre na cabeça. O cardápio, sob a orientação da Kalina, é tradicional caseiro e bem baiano, mas, às sextas-feiras, o galego e maridão Luíz oferece tortilla e lambretas antes de saboroso arroz de polvo ou lulas com batatas. 
Decoração agradável, serviço atencioso e rápido, higiene rigorosa e preços para não assustar ninguém, asseguram mesas cheias e até filas ao almoço de segunda a sexta. Língua, cozido e rabada são minhas escolhas favoritas e, quando dona Kalina resolve enfrentar o fogão para fazer seu doce de leite, eu até que mergulharia dentro do tacho.

Mas é ao abrigo dos ouros de São Francisco que, em noites de gala, vou jantar no mais recente francês Vila-Bahia. 

“Là tout n´est qu´ordre et beauté/ luxe, calme et volupté”. Baudelaire deveria ter acrescentado um verso sobre a gula, especialmente desde que o baianíssimo Augusto Lago, após longas andanças pelas Oropas, resolveu voltar, tal o filho pródigo. Em Barcelona aprendeu os segredos da culinária molecular. Então, hoje, a dois passos do Terreiro de Jesus, não estranhe um molho de insustentável leveza no pato com laranja ou uma mousse de chocolate desconhecendo a lei da gravidade. As doze mesas do sofisticado espaço são assaltadas desde cedo. É bom reservar pelo menos na véspera. Até agora o endereço escapou das colunas sociais, mas aqui poderá encontrar Yamandu Costa, o embaixador da França, Morais Moreira, o jogador de bola Lilian Thuram, Ariano Suassuna ou Alexandre, filho do príncipe Albert de Mônaco.

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