quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PARA REVITALIZAR É NECESSÁRIO CUIDAR DIARIAMENTE



AO BRILHANTE ARTIGO DE CLÁUDIO MARQUES, PUBLICADO HOJE NO JORNAL A TARDE, SÓ ME RESTA ACRESCENTAR UMA OBSERVAÇÃO:
NO CASO DO HOTEL FASANO, DE ALTÍSSIMO PADRÃO, ABRIR NO BELO EDIFÍCIO QUE ABRIGOU DURANTE ANOS O MESMO JORNAL A TARDE, COMO CONSEGUIRÁ CONVIVER COM A BAGUNÇA, POLUIÇÃO SONORA E AMBIENTAL DOS TAIS EVENTOS QUE SÓ CONTRIBUEM AO CAOS DA CIDADE?
SERÁ QUE A CLIENTELA INTERNACIONAL SOFISTICADA NÃO VAI FUGIR?


Em 2012, a Praça Castro Alves já foi fechada completamente em 32 oportunidades. Para shows, comícios, eventos religiosos (católicos e evangélicos) e datas comemorativas de rádios.
Nos dias 02, 03 e 04 de novembro, a Globo interditou completamente a Praça Castro Alves para gravar a série “O Canto da Sereia”. Nos dias 10,11 e 15, a emissora fechou parcialmente a Praça.
Com as vias fechadas, o comércio local fica estrangulado. Farmácias, bares, brechós, teatros e o cinema. Os empresários e agentes culturais que se interessam pela região, talvez o mais belo e importante em termos históricos da cidade, se constrangem por ver que não há um estímulo real pela instalação de novos empreendimentos. Desejam revitalizar a Praça, de uma forma definitiva, mas entendem que não há a mínima regulamentação e ordenação do solo por parte da Prefeitura Municipal.
Vale lembrar que todos esses eventos são autorizados previamente pela SESP (Secretaria de Serviços Públicos e Prevenção à Violência), órgão da Prefeitura, e também pelo IPHAN, uma vez que se trata de sitio histórico tombado.
Eu já estive na SESP diversas vezes nos últimos anos na tentativa de sensibilizar diferentes gestores quanto à valorização dos empreendedores locais e não de shows eventuais. A resposta sempre dada é que não há como negar pedidos, pois o desgaste político precisa ser evitado.
O superintendente do IPHAN, Carlos Amorim, me deu resposta semelhante na vez que eu estive em seu gabinete. Eu tentei sensibilizá-lo, ainda, pela degradação que passa a Praça Castro Alves toda vez que um palco gigante é montado. As pedras portuguesas ficam soltas, viram arma nas mãos de pessoas encharcadas de cerveja. Carlos Amorim me confiou que entendia todas as minhas colocações, mas que o IPHAN já tinha brigas demais pela cidade. 
O que me deixa desnorteado é que temos um conjunto arquitetônico e equipamentos incríveis localizado nessa região.
O Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha é um caso raro de qualidade e prosperidade no Centro Histórico. Leva milhares de pessoas, mensalmente, para ver filmes brasileiros e blockbusters, numa estratégia de programação reconhecida nacionalmente. Sedia festivais diversos e abre espaços para as produções locais. Os dois mais importantes festivais de cinema da cidade acontecem nesse cinema: o Panorama Internacional Coisa de Cinema e o Cinefuturo, com mais de 100 brasileiros e estrangeiros convidados, além de dezenas de películas raras projetadas.
O Centro Cultural da Barroquinha foi belamente restaurado pela Petrobras, mas ainda aguarda uma programação regular. O Teatro Gregório de Mattos, tão importante para a cultura da nossa cidade, continua fechado, infelizmente.Somados a esses equipamentos, temos ainda o Museu Afro-Brasileiro, na Rua do Tesouro, liderado por Capinam e que em breve estará funcionando. E o Museu de Arte Sacra, já próximo do Dois de Julho, que possui uma coleção permanente que impressiona.
Qual cidade do mundo conta com equipamentos culturais tão interessantes e potentes tão próximos, uns dos outros? Com certeza, poucas. Temos um verdadeiro cinturão cultural montado e ainda não percebemos. Vamos sentir falta quando todos esses equipamentos não estiverem mais por lá, pois não há cuidado para a permanência.
Talvez, uma proposta coerente seja destruir as casas e prédios, colocar tudo abaixo, e transformar o Centro Histórico em uma imenso descampado, que abrigue shows sem maiores constrangimentos.
Mas, o desejo da nossa população é o de ver os milhares de casarões e salas vazias do Centro Histórico ocupados por moradores, agentes culturais e comerciantes. É o de ter uma vida abundante, sofisticada e criativa em um dos lugares símbolos da nossa história.
Não estamos distante desse cenário, basta um pouco de vontade e coerência.
Precisamos de uma agenda, com eventos importantes pré-marcados (Carnaval, Primeiro de Maio e Dois de Julho) e dar um basta nessas ações predatórias à vida cotidiana do Centro Histórico.
Não é possível que, na encruzilhada que abriga Glauber Rocha, Gregório de Mattos e Castro Alves, a cultura não seja privilegiada.
Que o novo Prefeito esteja atento a essa necessidade!
Cláudio Marques é cineasta, coordenador do Espaço Itaú de Cinema e do Panorama Internacional

Um comentário:

  1. Caro Dimitri.

    Assino embaixo,o teor das críticas e comentários do articullista Claudio Marques.
    Estou a seu lado nessa luta sem tréguas con-
    tra o desmantelamento de um patrimônio que é
    nosso, de toda Bahia e do Brasil. Abraços,
    Climerio Andrade

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