Hoje, 17 de dezembro de 2012, fui informada por Dr. Albino
Rubim da reformulação por que passa a Secult.
A partir do ano que vem, o Museu de Arte Moderna da Bahia
terá novo diretor.
Após ter trabalhado durante dois anos pela reforma do museu,
fui, de forma desumana e abruptamente, sem nenhuma conversa prévia, afastada do
cargo. Isto, antes de atingir a estabilidade e sem poder me organizar
pessoalmente para enfrentar minimamente esta nova realidade. Não encontro, para
esta determinação, nenhum motivo de peso, já que trabalhei apaixonadamente para
esta instituição. Dediquei-me exclusivamente ao MAM-BA, e todas as outras
atividades profissionais e de estudo (até mesmo familiares) se viram relegadas.
Apesar da afirmação do Secretário de que não havia nenhum motivo pessoal que
justificasse tal atitude, só posso considerar questões pessoais como o mote
para a minha demissão. Solicitei, em várias ocasiões, audiências com o Dr.
Albino Rubim e nunca tive um canal aberto para expor as dificuldades que
enfrentava ou mesmo propor alternativas às necessidades da classe artística,
como a realização da Bienal da Bahia.
As divergências entre o MAM-BA e a DIMUS (e, consequentemente,
a Secult), surgiram por ter defendido a integridade da instituição e de seu
acervo, além de um programa que alinhava suas diretrizes à contemporaneidade.
Todas estas, atribuições da minha função.Outra dificuldade foi o eterno
contingenciamento de verba a que fomos submetidos, restringindo a programação
do museu.
Hoje, posso afirmar que a classe artística na Bahia
(sobretudo os artistas visuais), é uma minoria desprotegida que precisa ser
defendida contra interesses que vão de encontro à arte.
Enfrentei várias dificuldades durante minha gestão, e a
última delas demonstra a falta de preocupação com a direção deste museu. Soube,
há somente uma semana atrás, que a reforma do MAM-BA seria realizada em 2013,
quando já tinha organizado todo o calendário expositivo do museu, inclusive com
instituições estrangeiras e artistas convidados, o que vai gerar inúmeros
transtornos para todos os envolvidos, reiterando um aspecto de informalidade e
de pouco profissionalismo, contra o qual sempre lutamos.
Comecei no MAM-BA em fins de 2007, como coordenadora do
núcleo de Arte e Educação. Em 2008, fui convidada a ser assessora de Solange
Farkas, diretora desta instituição de 2007 a 2010. Com sua saída, assumi a
direção do museu, abrindo mão de outras atividades profissionais e articulações
pessoais. Um programaalinhado às diretrizes da contemporaneidade, e preocupado
com um trabalho efetivo de formação de público e para o público, como foi o
programa de ações desenvolvidos por Farkas, foi mantido por mim.
Por conta da nova (e reduzida) realidade orçamentária do
MAM-BA, criei o Núcleo de Desenvolvimento de Projetos, que nos auxiliou na
obtenção de recursos externos, que iriam ajudar a instituição na manutenção,
pelo menos,das linhas gerais do programa que havia estabelecido para este
museu. Centrei forças nas atividades de arte e educação que oferecemos, de
forma responsável e criteriosa, a um público que busca, cada vez mais, ações
efetivas de formação e não um mero simulacro de terapias ocupacionais – com
todo o respeito que dedico a estas.
Vários outros projetos não puderam ser realizados, por conta
da falta de verbas para o MAM-BA. É notório que esta instituição, apesar de ter
a maior visitação do estado, teve uma verba menor que outros museus ligados à
DIMUS, o que inviabilizou, por exemplo, a manutenção de projetos na área do
audiovisual, na realização de exposições de importantes artistas contemporâneos
e de ouras ações. Além disso, parcerias conseguidas junto a outras autarquias e
instituições foram barradas pela DIMUS, sob alegação de que estas parcerias beneficiariam apenas o MAM-BA e não
aos outros museus, apesar da evidente motivação que levou estas instituições a
estabelecer parcerias com o museu: a expertise que adquirimos, após anos de
pesquisa e dedicação a programas educativos. Estas parcerias, que se
traduziriam em verba e formação de novo público para o MAM-BA, foram
desperdiçadas.
Apesar disso, deixo a direção do Museu de Arte Moderna da
Bahia ciente de que fiz um bom trabalho, dentro das condições que me foram
oferecidas. O MAM-BA acaba de receber dois prêmios através do Ministério da
Cultura e do IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus – justamente pela
excelência de suas ações na área de arte e educação.
Através do patrocínio da Oi, consegui criar o LabMam
-Laboratório de Mídias Digitais - que ofereceu, de forma gratuita (como todas
as outras atividades oferecidas ao público pelo MAM-BA), cursos de formação na
área do audiovisual, trazendo como professores renomados profissionais e
pesquisadores, locais e de outros estados.
Vários projetos – como a efetivação do Núcleo de Pesquisa do
MAM-BA e o projeto curatorial para artistas locais, que tento estabelecer desde
o início da minha gestão – foram inscritos em editais, na tentativa de obter
suporte financeiro para as ações deste museu. Busquei patrocínios em empresas
públicas e privadas, e espero que estes editais contemplem o MAM-BA,
respeitando sua importância histórica e cultural.
Quero agradecer a todos – artistas, produtores, gestores ,
público em geral e sobretudo à preciosa equipe (funcionários do museu e
professores das Oficinas do MAM-BA) que muito me ajudou, de forma abnegada por
conta dos reduzidos salários, na tentativa de efetivar um programa para esta
instituição.
Stella Carrozzo
Salvador, 17 de dezembro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário