do poder contra
a indignação
JC Teixeira Gomes
Em meu livro
“Memórias das trevas” e em vários artigos, já escrevi que o poder não existe a
favor da sociedade, mas sim do grupo político que o detém. Peço aos leitores
que meditem um pouco sobre essa afirmação, bastando evocar os atos oficiais que
frequentemente prejudicam a vida dos cidadãos e em nada melhoram ascondições
sociais.
A corrupção se coloca nesse quadro como o pior
dos males, pois é dentro do próprio poder que se instalam os mecanismos que
dificultam combatê-la. A corrupção está intimamente vinculada ao poder, não
custando lembrar a frase famosa segunda a qual“ o poder corrompe e o poder
absoluto corrompe absolutamente”, que já li atribuída a um lorde inglês e até a
Confúcio.
As vigorosas manifestações do povo
brasileiro no último dia 15 repetiram os protestos de 2014, que foram inéditos
em nossa vida social, mas não obtiveram nada de prático. E isto porque, ao lado
da força das instituições em que se apoia, notadamente no aparato jurídico e
nas instâncias políticas de sustentação, o poder é também ardiloso.
Frequentemente os governantes fingem, diante dos protestos mais ruidosos, estar
de acordo com as mudanças exigidas pela indignação popular, mas na verdade
procuram neutralizá-las com a tática do “amaciamento”.
Foi assim que o comparecimento maciço às ruas
em 2014 resultou em nada, e que as passeatas de 15 último, enchendo praças e
avenidas, estão sendo progressivamente amortecidos pelos fingimentos do poder.
Mas porque, afinal, somos forçados, pela astúcia oficial, a conviver com o
triunfo da mentira política?
A principal causa é o poderio do aparato
legal que ampara as instituições de governo. Elas funcionam como um
instransponível biombo, que só as revoluções violentas desarticulam. Depois, a
mentira é sustentada pelo jogo do interesse da política partidária. Eis o que
explica a aparente desfiguração do PT, que, fingindo de início ser um partido
popular de esquerda, ao consolidar-se no poder, e para preservá-lo, passou a
fazer alianças com os representantes mais retrógrados da vida política nacional,
tais como Maluf, Collor,Renan Calheiros, Sarney e tantos outros, que, articulados
com Lula e Dilma, ajudam a preservar o quadro de
imobilismo que impossibilita a renovação reclamada pelo povo.
Ao lado
disso, a força partidária do PT, consolidada por esse esquema de conveniências,
levou o partido a agir sem dar a menor satisfação à sociedade. Isto ocorreu,
por exemplo, nas indicações para cargos relevantes, como, para citar o caso
mais atual e traumático, para a direção da Petrobrás.
Vi, por exemplo, na TV, a defesa que Sérgio Gabrielitentou
fazer da sua gestão à frente da grande empresa. Mas, para citar apenas um dado,
que defesa seria possível para quem, em tão alto posto, concordou em efetuar a
desastrosa compra da refinaria de Pasadena, aliás aprovada por Dilma
Roussef, quando no conselho
administrativo da Petrobras? Então é possível que essa solidária cadeia de
irresponsabilidades, que abriu as portas para o dilúvio de corrupção hoje
conhecido, seja considerada apenas como falhas administrativas irrelevantes,
para perplexidade e inconformismo de todo o Brasil?
Nos dois casos específicos, Gabrielli foi
pelo menos punido ao perder o direito de disputar o governo da Bahia, que era
sua grande ambição. Dilma Roussefvive, hoje, o inferno político da rejeição de
todo o Brasil consciente. Aos poucos, enfim, com lentos avanços, o povo vai
provando que não é uma massa morta, um mero joguete nas mãos do poder em suas
omissões, enganos ou ardis.
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