Aos vinte
anos, entradas. Discretas. Aos trinta são mais para fiordes. Aos quarenta, o
espelho d´água permite atracar os maiores cargueiros. Aos cinqüenta, já morando
na Bahia, a calvície, prova irrefutável da genética familiar. Coroa mesmo. Bem
mais cedo, porém, fora iniciado às sutilezas da etiqueta do chapéu e usava-os
incontidamente.
À esquerda da entrada de casa, aqui está o porta-chapéus
sanfona, daqueles bem simples, comprado na feira de São Joaquim, mostruário indiscreto
das incessantes brigas contra os sois, tropicais ou glaciais. Do México, em
palha de bananeira, da Colômbia com discreta borda preta, da Bolívia, feltro
preto.
Até que, em
novembro passado, fui convidado para o festival de cinema de Cuenca. Seria
agora ou nunca. Possuir o objeto do desejo de nove de cada dez carecas: um
verdadeiro panamá.
Durante dois dias andei de fábrica em fábrica perguntando
sobre qualidades e estilos. Até que, na Casa Barranco, não perdi a cabeça –
teria sido um contra-senso – e comprei três magníficos panamás de fina palha.
Nada que se enrole e caiba em um tubo de charuto. Isso é conversa para play-boy
dormir. A palha, muito frágil, quebra em pouco tempo.
Não escolhi os mais
caros, mas os mais sólidos, aqueles que os autóctones usam.
Voltando à
etiqueta... Nos anos 90 apareceu no New Pelô uma tal de Confraria do Chapéu.
Iniciativa tão efêmera quanto simpática. O ápice aconteceu em 25 de agosto,
data magna da República Oriental do Uruguai, quando os enchapelados entraram no
consulado pretendendo manter a identidade comum na cimeira.
Tira, não tiro,
então retire-se. Muito contrariados, os confrades se renderam. Chapéu não se
usa dentro de casa, por razões evidentes. Tira-se para falar às senhoras e na
igreja. Mas hoje, homens jantam com chapéu grudado no cabelo gorduroso e, na
catedral, moleques rezam de boné.
Perdem-se rituais, perdem-se memórias.
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