quarta-feira, 22 de outubro de 2014

NADADORES CONTUMAZES...

...DO PORTO DA BARRA
Há muitos anos, nado regularmente no Porto da Barra.
Tenho a companhia de outros nadadores contumazes. Nós nos reconhecemos. Mas nunca nos falamos. No máximo, permitimo-nos uma indiferença benevolente, uma cumplicidade tácita. O mar é grande.
Mas, após tantos anos de convivência “marítima”, acabamos por conhecer algo sobre nossos informais confrades: hábitos como freqüência à praia, aquecimento antes da atividade, percursos e ritmos de natação, contatos com outros banhistas.
Agora que mais uma temporada de verão se inicia, e passarei a encontrá-los mais amiúde, descrevei meus semi-anônimos companheiros de natação.
Uma homenagem aos que amam o Porto da Barra.
A NADADORA-FLUTUADORA (1)
Uma mulher com cerca de 50 anos, morena, ventre volumoso, rosto rechonchudo no qual pontifica uma expressão raivosa, de buldogue; longos cabelos anelados de um castanho esmaecido pelo sol. Usa um maiô preto, recatado, cobrindo a maior parte do corpo.
Posiciona-se no centro da praia, onde as três árvores projetam suas sombras sobre a areia. Faz alongamentos metódicos durante dez ou quinze minutos. Não fala com ninguém.
Nada erraticamente, em ziguezague; nem paralelamente à praia nem perpendicularmente em direção aos barcos ancorados.
Seu nado é um nado-flutuante, sem grande eficiência motora. Avança e flutua. Avança e flutua. Ao nadar, seu corpo bamboleia, gira em torno do próprio eixo, o que diminui a eficácia do movimento. Lembra uma foca ou filhote de baleia.          
Usa óculos de natação grandes e antiquados que lhe cobrem a maior parte do rosto e mais parecem uma máscara de mergulho.
Marcos A. P. Ribeiro

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