BOLSA CORRUPÇÃO
Luiz Holanda
O resultado desse primeiro turno demonstra que com o poder nas mãos, tempo de televisão e algumas mentiras pode-se ter um bom resultado. De um modo geral, as bolsas eleitoreiras também ajudam, principalmente no norte e nordeste do país. Acostumados a receberem dinheiro sem trabalhar, os bolsistas vivem na ilusão de que não produzir nada é o melhor meio para receber apoio do governo. Além disso, temem perder a fonte de fornecimento das drogas que consomem, pois os traficantes não poderão mais ficar com os cartões que lhes dão o direito de sacar os valores do benefício.
Dificilmente um bolsista se preocupará com a corrupção existente em todos os setores da administração pública e em todos os poderes da nação. Para ele, os acontecimentos relacionados ao superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena, a roubalheira na Petrobrás, o mensalão e os outros crimes descobertos pela Polícia Federal (PF) são coisas normais da política. Desde que o auxílio governamental seja mantido, pode-se roubar à vontade, já que, para a maioria dessa gente, “todo político é ladrão”. Diante dessa fatalidade, os políticos honestos sentem grandes dificuldades em vencer uma eleição.
De qualquer maneira, estamos diante de uma situação que vai nos obrigar a agir. O aparelhamento do estado nos força a tomar alguma decisão, principalmente depois que a imprensa publicou que numa reunião com o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, e dirigentes da estatal em Minas Gerais, o deputado pelo PT, Durval Ângelo, disse que a presidente Dilma só chegou aos 40% das intenções de voto no Estado graças “ao dedo forte dos petistas nos Correios”. Dona Dilma ficou furiosa com a declaração, mas nada pôde fazer, pois está atolada até o pescoço com a corrupção existente em seu governo. Naturalmente a justiça eleitoral nada fará em relação a esse crime, pois a impunidade – que já se tornou clássica-, está garantida por ela própria.
O delator do escândalo da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, que a presidente afirmou ter exonerado, terminou por minar a credibilidade da declarante. O candidato Aécio Neves, no último debate entre os presidenciáveis, exibiu uma ata que registrava o pedido de exoneração do delator e os elogios presidenciais feitos ao ex-companheiro pelos serviços prestados ao governo. Confusa e sem poder contestar nada, a senhora Rousseff chegou a dizer que “todo mundo pode cometer corrupção”. Essa absurda declaração deve decorrer das dificuldades que ela tem para explicar os escândalos oriundos do aparelhamento do estado pelos companheiros de luta, principalmente esse último, conhecido como o Petrolão.
Ao criticar a impunidade, certamente a presidente está se referindo ao Supremo Tribunal Federal (STF), cuja maioria circunstancial, nomeada pelo seu antecessor e por ela própria, representa a garantia de que nenhum corrupto poderoso permanecerá na cadeia. Veja-se, por exemplo, os condenados no processo do mensalão. Quase todos estão em casa, em “prisão domiciliar”, ao lado dos amigos e da família. Isso por pouco tempo, pois em breve essa maioria circunstancial, que representa “A nova cara do STF”, porá todos em liberdade.
Realmente, o mais luzidio exemplo do mar de lama em que o Brasil oficial chafurda, dá a medida de até que ponto nós chegamos em matéria de corrupção. Ao proclamar na ONU “o combate sem trégua à corrupção”, dona Dilma simplesmente chamou a atenção do mundo para o descalabro de seu governo, que não consegue impedir o assalto aos cofres públicos. Ela parece ter esquecido que, internamente, seu partido tentou classificar como “manipulação política” a condenação dos seus dirigentes no processo do mensalão.
Em vez de apoiar a decisão do STF que, na presidência do ministro Joaquim Barbosa (proibido de advogar pela OAB do Distrito Federal), condenou seus principais líderes, o PT os transformou em “guerreiros do povo brasileiro”. E o pior é o boato de que esses “guerreiros”” estão defendendo que se os corruptos declararem ao Imposto de Renda a quantia roubada podem ficar com o produto do roubo. Se isso acontecer, mais uma bolsa - entre tantas que garantem a maioria ao governo-, terá sido criada: a Bolsa Corrupção.
Luiz Holanda é advogado, professor universitário e conselheiro do Tribunal de Ética da OAB/BA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário