sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Somos Todos Mestiços

     por Consuelo Pondé  de Sena                                   
O negro tem estado presente na  América Portuguesa   , desde os  inícios   da colonização brasileira ,  aqui  tendo chegado   no século XVI ,  com as  primeiras levas de portugueses  incumbidos  de povoar  território  recém descoberto . Trabalhou arduamente a partir do século XVI , como mão de obra escrava , em substituição ao indígena ,  inadaptável  às tarefas   forçadas   e sistemáticas  , tendo representado  a maior força de trabalho nos períodos : colonial e imperial até 1888 .   Até o presente momento, segundo creio, dada à insuficiência de dados, parece impossível estimar o número de escravos negros que, no decorrer de 3 séculos ,  aportaram nos pontos de desembarque do  Brasil. As estimativas calculam que os números  vão de 3 a 18 milhões de pessoas. Em função do tamanho do Brasil e do caráter  cíclico da economia brasileira , esses milhões de escravos distribuíram-se  por vários pontos do país .  Noção básica e  conhecida de todos é, a  que a maior  concentração  deles  observou-se na área nordestina  ,sendo menos significativa no sudeste do país , nos territórios  em que atualmente se situam os estados de Minas Gerais , Paraná , Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ao longo dos  anos de intensa  convivência entre as  populações  formadoras  da nossa gente ,  observou-se  o continuado processo de miscigenação ,  formando-se  expressivo segmento mestiço , que sobrepujou  quantitativamente o negro e o branco , como pode ser observado nos  vários  recenseamentos oficiais. Os resultados do censo de 1950 há mais de meio século, portanto, indicavam, num total de 51.994 .357 indivíduos da população do país , a existência de 32.027.661 brancos ( 61%) , 13.786.742  pardos  ( 26% ) e 5.692.657negros ( 11%) . Já àquela altura a soma a soma dos mestiços atingia o percentual de 37% de uma população não branca  na população brasileira. Trinta anos depois , em 1980 , a população brasileira atinge 119milhões, sendo 65 milhões de brancos; 45 milhões de pardos e 7 milhões de negros . Assim, o segmento não branco alcança cerca de 52 milhões de indivíduos, ou seja, um percentual de aproximadamente 43% da população nacional. Observa-se, portanto, à vista desses dados o aumento dos pardos e o decréscimo de brancos e negros.  Esses dados, contudo, apontam para o crescente aumento dos pardos   que tanto pode ser mestiço de branco com negro ( mulato) , branco com índio ( mameluco) , negro com índio ( cafuzo ) ou mesmo o próprio indígena integrado à civilização brasileira do Assim, os estudiosos da tradição bantu  disputam seu lugar  com os montante da população não branca do país “ , conforme escreve o sociólogo da USP , Prof João Baptista Borges Pereira .   Por outro lado , consoante o mesmo estudioso: “ No discurso de ideólogos e militantes políticos negros , essa onipresença cultural  é ressaltada  com muita ênfase . Dado que merece esclarecimento diz respeito à procedência dos escravos,  oriundos   de   diversas partes do continente africano , portadores de diferentes culturas , que não  devem  ser considerados num” lote único”, como supõem pessoas desavisadas . Em estudo da década de 1940, Artur Ramos  distingue : culturas sudanesas , culturas bantus e as culturas guineano-sudanesas ou negro-maometanos . Os cruzamentos entre esses grupos diversos  dos  negros e deste com o branco se observaram,  igualmente , no plano cultural. Esse emaranhado cultural não  comporta  a idéia  do  resultado de uma matriz exclusiva , compondo  o que  hoje  se  denomina   cultura afro-brasileira. O afastamento de cada um desses grupos da sua matriz  original  africana  , queiram ou não , atualmente integra a cultura nacional, que é formada desse intenso caldeamento étnico, sendo pluri-racial a população do nosso país. Todavia, alguns ideólogos negros procuram manter suas tradições próprias como reafirmação do seu grupo.que se inclinam para a tradição sudanesa , ou seja , a tradição  sincréticagege-nagô.Como não sou do ramo , apenas , faço essa referência , haurida das  constantes  leituras sobre o assunto.Quero crer, e esse é um direito que defendo,  que a  cultura brasileira revela grande receptividade no que se refere á assimilação  das  irrefutáveis  contribuições  africanas  , tanto assim que  adotam , por inteiro ou em parte , os  elementos culturais  dessas diversos   mananciais  formadores da nossa gente. Parece que os  último censos   os  de  1980 e 2010 ,  não anotaram  o quesito cor ,em nome ou não de teses de “democracia racial” , “tirando a ideólogos e ativistas negros  um recurso que se constitui  na exploração ideológica do significado desempenha outra função , que consiste em fornecer elementos concretos para que teses a respeito da supremacia do negro sejam reforçadas “. O trabalho do Prof. Borges Pereira  foi  publicado em 1983, na Revista de Antropologia  e reflete o que se passava naquela quadra da vida brasileira. Todavia, vale como uma reflexão séria e responsável, além de alertar, como ele o fizera desde aquela data, para  a folclorização da cultura negra ,  cada vez mais presente em nosso meio , a transformar suas manifestações culturais em “algo irrelevante ou em recheios ideais  para se montarem esquemas de entretenimento para vastas camadas da população , em especial para aquelas  que, independentemente da cor , podem usufruir  de forma mais plena , certo tipo de lazer produzido pela sociedade brasileira . Como tal , esta cultura não é levada a sério ; é , ao mesmo tempo , uma cultura da puerilidade e do pitoresco.”Por fim, a política a ser adotada e cumprida nos domínios da cultura deve dar importância a todas as  manifestações culturais  que se tenham radicado no Brasil , após a chegada dos adventícios , com destaque para as culturas negras  nas regiões em que tiveram maior presença , do mesmo modo que se deve exaltar a contribuição indígena onde ainda têm  predomínio  ,  e o marcante   subsídio estrangeiro  no Sul do Brasil.O assunto é instigante e exige muita habilidade e perspicácia  dos que se ocupam do assunto,  tal o  visceral significado para o povo brasileiro , inquestionavelmente , uma terra de mestiços .  

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