Sempre que vou a São Paulo, meu irmão Wladimir me leva ao bairro da Liberdade para comer com palitos. O gosto pela cozinha japonesa e o sakê quente nos une. Será por causa da tetravó mongol? Dia desses, declarou: Você vai conhecer o cara que acaba de ganhar o diploma de melhor sushiman da capital.
Entrada discreta, estabelecimento sem identidade definida, longe das sofisticações de um Shintori. Sou levado direto ao balcão que é, como todos sabem, onde os aficionados costumam sentar para observar o malabarismo do sushiman. Chega um homem mais para mascate nordestino que para samurai do Império do Sol Nascente. Surpreenda-nos, pede meu irmão que parece íntimo da casa. Meu olhar vasculha o serviçal e nada de japa. Cadê o famoso sushiman? Wla dá uma risadinha. É este, que nos atendeu, com a fita branca na testa. Como couvert, o mano conta uma trajetória digna de Balzac.
Era uma vez, Lika – com K mesmo - adolescente de Olindina, interior da Bahia, quase Sergipe. Sem dinheiro nem trabalho, foi enfrentar o Destino de carona, rumo aos irmãos já instalados em Sampa. Um destino de olhos rasgados lhe fez lavar o chão do restaurante. Do piso passou aos pratos, dos pratos ao corte dos legumes para finalmente atacar a peixaria. Aos poucos, ajudando este patrão e outro depois, sempre nipônico, foi assimilando o corriqueiro, até que os cardápios não mais tivessem segredo para ele. Doze anos passaram. Mas o homem é teimoso, nunca satisfeito. Um belo dia, comunica a decisão à esposa. Vamos arrumar a trouxa e se mandar pro Japão pra conhecer os fundamentos. Assim fizeram e na ilha do Xogum, cidade de Omia, o Lika começaria tudo de novo.
Após dois anos de dura labuta, o avião da Varig enfim os devolve a São Paulo, dispostos a provar que baiano também pode ser mestre nas sutilezas do yakimono, sushi, tempura, sashimi e outros agemonos. O Sushi Lika seria aberto em 1993.
O prato fundo agora oferecido ao meu olhar admirativo só podia confirmar o diploma recém emoldurado. O jantar foi uma festa de raro requinte.
PS.- Bem, acho que errei o título...
Foram os Baianos que Ensinaram os Paulistas a Trabalhar
ResponderExcluirO termo caipira, segundo o Houaiss, designa o habitante de parte da região Sudeste, especialmente São Paulo. Indivíduo simplório, de origem rural e pouca instrução.
A melhor caracterização do caipira foi o personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. O grande escritor era natural do interior de São Paulo e sabia o que falava. O inesquecível
Mazaropi também interpretou personagens (inclusive Jeca Tatu) abordando a preguiça e a ignorância dos paulistas do interior.
Na primeira metade do século 20 e boa parte da segunda, muitos baianos e nordestinos migraram para São Paulo, fugindo da seca e em busca de trabalho. Os prédios e
avenidas da capital paulista foram, em grande parte, construídas por baianos, transformando a cidade na grande metróple que é hoje.
Nas décadas de 1980/90, a Bahia investiu maciçamente em irrigação. A migração se inverteu. Fazendeiros do Sul e Sudeste buscam agora usufruir da infraestrutura baiana,
junto com muitas indústrias, que não se instalam mais em São Paulo.