segunda-feira, 18 de maio de 2015

QUE MODELO DEMOCRÁTICO?

Rildo Polycarpo OliveiraRILDO POLYCARPO OLIVEIRA

Caso estivéssemos amplamente ocupados em combater a corrupção e em defender os interesses coletivos - e a primeira coisa é só uma parte da segunda -, nos obstinaríamos, coletivamente e a despeito de inclinações ideológicas e partidárias, em perseguir tudo e todos os envolvidos em falcatruas nesse Brasil, ao menos desde que ele passou a ser dito democrático, de modo a fazer uma limpa em nosso passado recente e favorecer a emergência de um futuro diferente. 
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Para isso, teríamos de ter uma consciência suficientemente aguçada sobre o fato de que os partidos são atuais ou no mínimo potenciais servidores dos interesses do grande capital; teríamos de abdicar da crença de que o voto é por si só uma bastante e acabada expressão de nossa participação política; teríamos de abrir os olhos para o fato de que o que realmente prepondera, antes e agora, são os interesses das grandes corporações e não os interesses sociais da coletividade, não o bem estar social e a integridade do meio ambiente; teríamos de olhar menos pros nossos umbigos e bandeiras; teríamos, enfim, de ser mais solidários com as gentes em sua heterogeneidade, com a gente mesma, com o passado, o presente e o futuro nossos; teríamos de ser bem menos coletivamente estúpidos. 
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Isso resultaria, dentre outras coisas - e o exemplo nos pode parecer mínimo -, em que comentários como este não fossem rechaçados, como frequentemente o são, com o falacioso argumento de que abrir o foco do olhar que persegue a corrupção - com isso fazendo-o estender-se para além da estrela vermelha de um partido e para aquém do presente imediato e para além deste - seria deixar de concentrar esforços sobre o que importa, que nessa perspectiva míope, a que é avançada por tal argumento, seriam tão somente os atos de corrupção protagonizados pelo governo atual, especialmente pelo partido que o encabeça. 
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Afinal, o que importa mesmo? A luta contra a corrupção e em favor dos interesses coletivos ou a substituição de protagonistas de uma mesma e persistente ciranda do poder? 
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Dois pontos parecem em geral difíceis de ser enxergados: 
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- que o nosso modelo democrático, que é de uma democracia meramente formal, se dispõe como ambiente perfeito para a continuidade desse antigo servilismo que é o dos agentes do poder público ao grande capital privado; 
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- que uma democracia efetivamente participativa apenas poderá ter lugar com o desenvolvimento de uma consciência social e política tendentemente apartidária (digamos insubmissa a paixões de torcidas, em especial as umbilicais de classe) e coletivista, porque munida de uma maior solidariedade, algo de que carecemos em aterradora medida. 
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E esta não é uma carência que se supra sob uma atmosfera saturada de individualismo, este que docilmente se compraz em consumir o que lhe for acessível, e de outras obsessões como o produtivismo, este sem o qual nos parece, amedrontadoramente, que todo o nosso mundo ruiria. 
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E de fato este mundo precisa ruir, porque ele não é acolhedoramente habitável. É preciso um outro oikos, uma outra casa, mais ampla e arejada. 
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Por enquanto, temos um desespero social que é pelas coisas mais básicas do bem estar social e que é também e já por ingressar com maior altivez na festa do consumo, desespero que debilita a potência de uma solidarização participativa entre os miseráveis e os pouco menos que miseráveis. 
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E temos também - também longamente por enquanto - a grassante estupidez dos que foram tomados pelos ideais e valores de um discurso neoliberal e suas práticas, estupidez que a tudo apela, que desdenha da vida em geral, demonstrando já o estreito parentesco entre o fascismo e o nosso acostumado modo capitalista de viver, modo impróprio, como tantas vezes já se demonstrou, a qualquer rebento democrático que mereça o nome de solidariedade coletiva, porque é modo que nos ata, paraliticamente, aos nossos próprios umbigos.

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