No lusco-fusco plúmbeo e chuvoso, quando mar e céu convergiam-se no horizonte, um helicóptero sobrevoava a praia entre o Cristo e o Farol da Barra.
Pelo que pude entrever, havia uma lista branca diagonal no aparelho de cor marrom, o que me fez pensar que se tratasse de aeronave da Polícia Militar.
No entardecer sem acontecimentos notáveis, langoroso, acompanhei sua trajetória com interesse e curiosidade.
Descreveu uma ampla curva à direita e dirigiu-se diretamente ao horizonte, voando agora perpendicularmente à praia.
Interrompi a caminhada vespertina e fixei a atenção no aparelho - que se afastou da praia até que fosse perdido de vista.
Certifiquei-me que não se dirigia a Itaparica nem a Morro de São Paulo. Não; seu curso, se mantido, o levaria diretamente à África, a outra margem do Oceano Atlântico.
Obviamente, um helicóptero não tem autonomia para atravessar o Atlântico. Esperei, portanto, seu retorno.
Transcorreu certo tempo. Então, uma luz amarela intermitente surgiu no horizonte nublado e se aproximou da praia.
Mas o aparelho não se orientou para a terra. Permaneceu no vasto espaço sobre o mar, já obscurecido pela noite, descrevendo amplos círculos cortados por diagonais.
Uma trajetória aparentemente errática.
Procuraria alguma coisa. Mas o quê? Náufragos? Houvera um acidente no mar? Hipótese excessivamente literária.
A Polícia Militar – considerando que a aeronave pertencesse à corporação - estaria realizando alguma patrulha? Mas já quase noite e com a visibilidade muito prejudicada? Não faria sentido.
Caso o aparelho fosse particular e estivesse realizando um vôo panorâmico para mostrar as belezas naturais da cidade, dificilmente se poderia escolher um momento menos oportuno.
Se se tratasse de mera viagem de transporte, a trajetória do helicóptero ligaria simplesmente um ponto a outro na terra ou no mar (uma plataforma de exploração de petróleo, por exemplo).
Após cerca de vinte minutos de volteaduras sobre o oceano, a aeronave de asa rotativa tomou novamente o rumo do horizonte e desapareceu definitivamente.
Retomei a caminhada intrigado e pensativo.
“A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério.”
Marcos A. P. Ribeiro
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