Comparecer na
frente de um juiz deve ser muito inconfortável. Ele lá em cima, atrás de uma
mesa imensa, e você cá embaixo, esmagado pela imponência do momento. E não é
que aconteceu exatamente o contrário num sábado de março, quando do II
Encontros de Juízes pela Democracia?
Convidado como ativista (?!) para falar de
meus insistentes protestos sobre habitação e patrimônio cultural, de repente me
vi sentado na mesma imensa mesa, agora ocupada por verdadeiros ativistas como o
Hamilton do “Reaja ou será morto”, ou como o cacique tupinambá Babau defendendo
a preservação da cultura e das terras de seu povo. Eles vivem diariamente o
drama anunciado. Eu, branco e morando bem, não passo de observador crítico.
Diferença abismal.
Lá embaixo, uns trinta ou mais juízes, ouvindo. O momento
não é de julgamento, mas de expor as ensangüentadas feridas causadas por omissos
poderes governamentais em questões essenciais à evolução harmônica da
sociedade. Acredito, porém, ter conseguido expressar minha indignação pelos
1.500 imóveis vazios e abandonados no centro histórico de Salvador, enquanto
seres humanos absurdamente excluídos moram em casebres nas encostas, enquanto
se tenta desalojar os moradores, artesãos e trabalhadores dos arcos da Ladeira
da Conceição da Praia. Gentrificação primária e contraproducente.
Existe, nos
diversos setores das três instâncias, uma enorme carência de humanistas e de gente
de cultura, e um excesso de tecnocratas e burocratas. Isto, sem falar nos
oportunistas e papagaios de piratas que infestam as ante-salas dos gabinetes
oficiais.
É bom, é
saudável que uma parte da sociedade consciente tão significativa como a destes
juízes pela democracia esteja atenta ao clamor dos anônimos, dos excluídos, dos
injustiçados. Não se trata de palavreado de anarquista sonhador ou comunista
saudosista, mas de quem se preocupa com tão vergonhoso desequilíbrio. Não
podemos continuar eternamente cegos e surdos.
Faz muitos anos que os juízes não mais se sentam em tablados, bem distantes dos mortais. Aqui na Bahia - sempre atrasada - é que a sala do Tribunal do Júri e somente ela, é que ainda mantém o tablado, o que se justifica até por causa do espaço que os advogados precisam para se movimentar em suas defesas /acusações.
ResponderExcluirSou mãe de uma juíza federal.