Marta Suplicy, a ex-libertária, virou uma chata resmungando por cargos
LAURA CAPRIGLIONE
A constatação é indeclinável quando se lê a entrevista que Marta deu à jornalista Eliane Cantanhêde, do “Estadão”, publicada no sábado (10/1). Marta detonou nominalmente dirigentes do PT –sobre esse pessoal, ela, antes, diria com graça: “Nem sei quem são, o que pensam e nem estou interessada”. Caiu no ridículo de querer posar de defensora de Lula, suposta vítima, dentro do PT, de terríveis complôs e traições. Também atirou contra o seu sucessor no Ministério da Cultura, Juca Ferreira, a quem imputou a autoria de “desmandos e irregularidades”. E acusou a flechada negra do ciúme, no mimimi contra Dilma Rousseff.
Que pena! Marta era muito mais divertida antes.
Como deputada do PT, ela brigava pela descriminalização do aborto, pela cota mínima de 25% de mulheres nas listas de candidatos que os partidos devem apresentar às eleições. Pilotava projeto para transformar o assédio sexual em crime. Na Comissão da Câmara sobre Violência contra a Mulherdava show, amparando vítimas em depoimentos dramáticos (aquilo tudo deu na Lei Maria da Penha, importantíssima). Entre seus projetos mais civilizadores estava o da parceria civil entre pessoas do mesmo sexo. E ela ainda brigava pela criação de um órgão para “controlar o lixo que a televisão derrama diariamente nas casas dos telespectadores”, nas palavras dela.
A agora enfadonha Marta só fala de cargos, de hierarquia partidária, de conspirações secretas. Quem, fala sério!, se interessa por isso?
Marta sempre brigou com o PT, mas de um jeito encantador, libertário. Na discussão sobre aregulamentação do aborto em caso de estupro ou risco de vida para a mãe, era curioso ver petistas trocando olhares hostis. Marta defendia a necessidade de a rede pública de saúde realizar o aborto nessas exceções previstas em lei. Contra ela, levantava-se toda a ala católica do PT, entre os quais altos dignitários, como o então deputado Hélio Bicudo. Mas Marta estava fazendo história.
Agora, é diferente. O PT ficou diferente.
A mulher que levantou bandeiras tão fundamentais para os direitos das minorias, para a emancipação feminina, que primeiramente discutiu a regulamentação da mídia (esse tema que é hoje tão urgente) apequenou-se, aborrecida, discutindo fofocas partidárias num enredo pobre e sem imaginação.
A resposta do PT aos ataques de Marta? Nenhuma, como a provar que o partido também se tornou incapaz de falar sobre as angústias de seus militantes e do país (Kátia Abreu e a equipe econômica, afinal, podem não gostar).
Em uma coisa, Marta está definitivamente correta: o partido chegou a uma encruzilhada. “Ou o PT muda, ou acaba”.
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