Festa pra quem? Ambulantes dormem no chão e protestam na BA
Vendedores ganham R$ 50 por dia e são obrigados a vender cerveja de uma única marca nos circuitos; protesto chegou a parar trio elétrico na sexta-feira (13)
Dormimos no chão, somos tratados como bandidos pela polícia, não podemos vender o que achamos melhor e ainda nos dão uma mixaria para isso tudo”, reclama um dos líderes de um movimento de protesto pelos direitos dos vendedores ambulantes credenciados para o Carnaval de Salvador. Com medo de represálias, ele não quis se identificar, mas disse que os moradores da cidade são vítimas de exploração durante a festa.
“Não temos a menor condição de trabalho com conforto. Os turistas chegam aqui, sujam nossa cidade e nós temos que limpar”, segue reclamando o vendedor, que critica, acenando a cabeça negativamente e com cara de pesar, o fato de somente cervejas da marca Schin poderem ser comercializadas na região.
Na sexta-feira (13), o protesto chegou a tomar corpo e parou o desfile do bloco de Léo Santana no Circuito Barra-Ondina. Com grades, manifestantes bloquearam a passagem, mas foram logo afastados pela polícia, que procurou não fazer alarde com a situação. Os manifestantes, apesar de revoltados, não reagiram. Mas o recado foi dado.
De fato, o Carnaval da capital baiana parece longe de ser para todos. Segundo recente pesquisa divulgada pelo jornal A Tarde, somente 24% dos moradores de Salvador curtem a festa como foliões. Dessa soma, quase ninguém acompanha os blocos com abadás, e sim na famosa pipoca.
Com mais de 90% da população negra, a Bahia vê seu principal Carnaval deixando as raízes de lado. Nos blocos mais populares, como os de Ivete Sangalo, Bell Marques e Claudia Leitte, fica nítida a divisão de raça e classe social entre os turistas e os moradores, espremidos, quase escondidos, nas esquinas que encontram ruas paralelas aos circuitos.
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