BRASÍLIA — Empossado nesta segunda-feira ministro da Cultura, Juca Ferreira respondeu de forma contundente as críticas que sua antecessora, Marta Suplicy, fez à sua gestão. Juca disse que levou uma "bolsada de Louis Vuitton", e que a petista não foi bem na condução da pasta. Segundo Juca, ela foi nomeada pela presidente Dilma Rousseff como prêmio de consolação. Comparou as denúncias de supostas irregularidades em sua gestão ao caso Escola Base, em que uma escola foi acusada de abrigar pedofilia nos anos 1990 e, ao fim, ficou comprovado que era mentira.
A declaração foi feita à noite, durante reunião com vários setores culturais, que reivindicavam apoio em suas áreas. Juca disse que não queria atacar Marta, mas não conseguiria ficar em silêncio, ou ficaria doente.— Levei uma bolsada de Louis Vuitton na cabeça. Na politica, fabricam Escola Base em uma quantidade enorme. Pra cima de mim, não. Tenho 47 anos de vida pública e continuo pobre. A madame que se cuide, porque uma hora dessa eu respondo — ameaçou.
— Não quero fazer o que ela quer, uma salseira para ela sair do PT como vítima. Estou aqui desabafando, senão eu vou ficar com câncer — declarou.
Segundo o novo ministro, a petista não realizou políticas próprias. Teria apenas dado continuidade a projetos criados por ele, quando foi ministro no governo Lula.
— Ela defendia o direito ao orgasmo da mulher na televisão. Eu ficava de boca aberta: que mulher incrível! Depois ela foi uma boa prefeita de São Paulo. Agora, ela não foi uma boa ministra. É verdade, vocês sabem disso. Eu não quero fazer futrica e atender essa demanda que a imprensa tem em transformar a gente em galo de briga, mas não foi uma boa ministra. Primeiro, porque ela foi nomeada porque não foi contemplada no que queria. Depois, pegou umas coisas que a gente fez e levou adiante. O Vale Cultura, por exemplo — afirmou.
Em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", Marta afirmou que o MinC teria feito contratos sem licitação durante a gestão de Juca. Teria sido feita uma compra para a Cinemateca Brasileira sem licitação. Segundo o novo ministro, tratava-se de uma única cópia de um filme do cineasta Glauber Rocha, em posse de um colecionador italiano.
— Em 2010 optamos por fazer um grande investimento na cinemateca e descobrimos que grandes filmes brasileiros já não existiam mais, estavam se degradando. De Glauber Rocha, descobrimos um colecionador particular que tinha um filme. Aí, maliciosamente, pessoas disseram: "deve ter coisa aí". Por que o ministério comprou o acervo de Glauber Rocha sem licitação? É demais! Que um burocrata da CGU faça isso eu entendo. Agora, que a ministra da Cultura leve isso para a imprensa? — questionou.
Depois de ouvir os setores, Juca defendeu a criação de um sistema público para estimular a cultura no país. Ele citou a importância de financiar circos pequenos — que, para ele, "cumprem um papel cultural importante" e muitas vezes acabam apelando para piadas pornográficas para sobreviver.
Juca lembrou que, como secretário municipal de Cultura de São Paulo, conseguiu que a prefeitura isentasse grupos cooperados de artes cênicas do IPTU e do ISS. Ele cogita estender essa política para todo o país.
O ministro criticou o "colonialismo" do brasileiro, que fica "feito uns bestas esperando a indicação do Oscar". Ele afirmou que, para um filme latino-americano ser exibido no Brasil, é necessária a atuação de um distribuidor dos Estados Unidos. Juca defendeu a criação de um sistema integrado da América Latina para garantir a distribuição dos filmes entre os países.
O novo integrante do governo Dilma defendeu também a desoneração do preço dos livros para aumentar o consumo do produto. E concordou com a proposta de reformulação da Fundação Nacionnal de Arte (Funarte).
— Eu acho que a Funarte ou se modifica completamente, ou acabou como instituição. A gente não pode nem acusar a Funarte de ter se carioquizado, porque ela não atende nem a cultura do Rio de Janeiro — afirmou.
A frase lembra a fala de Marta Suplicy, sua antecessora no MinC, que disse ao jornal "O Estado de São Paulo": "Ou o PT muda, ou acaba".
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