Os jardins Majorelle e uma sugestão
Você vai a Marrakesh? Que bela idéia! É, sem dúvida alguma,
uma das mais deslumbrantes cidades do mundo, com seus misteriosos palácios
protegidos por antigas muralhas de pedras e barro vermelho. Por suas amplas e
severas portas deixam escapar jegues, carneiros, bodes, cavalos e camelos,
misturados aos carros, camionetes, ônibus e bicicletas.
Fora das muralhas se
estendem os bairros mais modernos. Largas avenidas bordadas de palmeiras e
jacarandás. Nobres alamedas que levam a hotéis de luxo, mansões. Imóveis nunca
mais de cinco andares. Sábia decisão da época da colonização francesa. Nenhum
edifício, a não ser as torres das mesquitas, podia ultrapassar as palmeiras. A
cidade inteira é pintada de todos os tons do barro, dando assim uma
homogeneidade elegante à cidade imperial.
É fora das muralhas de
Marrakesh que se oferecem os voluptuosos jardins de Jacques Majorelle, pintor
orientalista francês que concretizou este louco sonho em 1931. Falecido em
1962, a propriedade foi esquecida, abandonada até ser finalmente salva em 1980 por
Yves Saint-Laurent e seu companheiro Pierre Vergé.
Hoje, os jardins Majorelle fazem parte do roteiro de todo
visitante sofisticado. Neles você se encantará com as coleções de palmeiras, de
cactos e de bambus. No ateliê do pintor,
Yves e Pierre instalaram um museu de objetos e tecidos berberes.
Uma coisa que impressiona é o número de visitantes que
passeia calmamente pelas alamedas do pequeno parque. Lagos, fontes, bancos
sombreados por bougainvileas, jasmins e bananeiras, ninféias, gerânios e rosas
onde voam mil alegres aves. Os mosaicos tradicionais dos pátios são realçados
pelas paredes pintadas de azul forte lembrando o azul da contemporânea Frida
Kahlo.
Na verdade, este jardim mágico é uma próspera fonte de renda
quando se sabe que recebe uma média de 600 mil visitantes por mês, cada um
pagando algo em torno de R$15,00. E nada de meia entrada para estudantes,
deficientes ou idosos. Talvez um dia no mês para escolas públicas e olhe lá...
O resultado é que os imóveis em volta dos jardins se
valorizaram de forma astronômica e criou-se um comércio de luxo baseado na
simples menção do prestigioso nome de Yves Saint-Laurent. Não existe alteza ou
marajá que não seja levado aos Jardins Majorelle. É um must, é chique, é
colunável. E, sejamos sinceros, é um
profundo prazer para os olhos e a mente.
Por que estou contando isso? Pela emoção da lembrança,
claro. Mas também por que não me conformo de constatar a pouca atenção que
nossos governantes dão a extravagante riqueza de nossos recursos naturais. E
vale reconhecer que a sociedade, a não ser raríssimas exceções, tão pouco
valoriza este imenso potencial.
Estamos às vésperas de ver o quartel dos fuzileiros navais
do Comércio se mudar para os lados de Aratu. O que é que os responsáveis por
esta cidade vão fazer com tão fabulosa fatia da cidade totalmente livre de especulação?
Uma parte
deverá ser destinada, logicamente, a um imenso estacionamento, já que nossos
urbanistas ainda acham que a cidade é dos automóveis e não dos moradores. Mas
não seria oportuno começar a planejar algo que seja muito mais essencial a
saúde do soteropolitano e que, além de melhorar significativamente sua
qualidade de vida, daria à nossa capital a possibilidade de elevar-se na
estreita lista das cidades verdes do continente americano?
Já pensaram o paraíso que podemos ter ao alcance de todos
com nossos ipês, jacarandás, mangueiras, pau-brasil, palmeiras do viajante,
bougainvileas, cactos, coqueiros, ibiscus, bambus, papiros, pitangueiras,
bananeiras, fruta-pão, bastão do imperador e tantos outros cuja memória me
escapa ou desconheço? Não estou falando de mais um simples jardim botânico, mas
sim de algo realmente ambicioso, deslumbrante, uma obra-prima que levasse a
assinatura de um novo Burle Marx, que justificasse ser lembrado ao lado dos Majorelle
de Marrakesh, Kew Gardens de Londres, Inhotim em Belo-Horizonte, Montserrat em
Sintra , Aranjuez na Espanha, Bagatelle em Paris, Vila d´Este em Roma, Nymphenburg
na Alemanha etc.
Por que não? Já imaginaram a mudança de mentalidade que tal
realização poderia trazer à nossa sociedade? Como isso iria contribuir para uma
nova concepção de respeito à Natureza? Mas sei que é mais um delírio meu no
absurdo desejo de reverter o abismo de mediocridade no qual estamos nos afogando...
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