domingo, 13 de março de 2016

INCÊNDIOS

ADOROCINEMA

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Um título como Incêndios é de deixar qualquer um louco com a infinidade de trocadilhos possíveis, mas o melhor é quando um filme é bom o suficiente para gerar elogios e menções desvinculadas de qualquer figura de linguagem - como é o caso aqui. Mesmo assim, só para matar a vontade vou soltar um trocadilho logo no início da crítica e tentar poupar vocês no restante do texto. Aqui vai: Incêndios é um filme que promete derreter qualquer frieza.
Apesar de trazer alguns incêndios na trama, o título tem como alvo não uma tragédia específica, mas toda a história de vida de uma família. O longa segue os passos dos jovens Jeanne e Simon Marwan, irmãos gêmeos que após a morte da mãe descobrem que possuem um irmão e que o pai que tinham como morto pode estar vivo.

Enquanto Simon se revela reticente em navegar pelo passado da mãe, Jeanne não pensa duas vezes antes de embarcar em uma viagem sem volta e sem tempo de duração.

Deixando sua vida no Canadá em direção ao Oriente Médio para procurar o pai e o irmão, Jeanne acaba encontrando sua mãe, Nawal Marwan. Não, ela não se depara com fantasmas da falecida ou com uma nova mãe biológica, mas só ao pesquisar a difícil e misteriosa vida de sua mãe que irá de fato descobrir que mulher foi ela.

Descobertas estas que se revelam nada fáceis de lidar, o que é um dos pontos positivos da produção canadense. Ao contrário do que aconteceria no cinema norte-americano, aqui não vemos uma jornada propriamente de redenção. O percurso percorrido pelos irmãos Marwan (Simon é convencido à embarcar na empreitada com o tempo) é duro e angustiante. 

Os gêmeos veem tudo aquilo que sabiam e pensavam sobre sua mãe basicamente pegar fogo e este sim é o incêndio que o título faz referência.

Indicado ao Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro, Incêndios é um longa que entrega ao espectador muito mais do que promete. A construção do roteiro e a caprichada edição de Monique Dartonne (Sem Ela) geram um filme muito bem desenvolvido e que surpreende o público em vários momentos na trama. O mais interessante é que em determinada parte do filme, pode-se pensar que a história está ficando previsível, mas é aí que surge mais uma surpresa.

Com relação à edição, o único ponto negativo é a opção por dividir o filme em capítulos. Talvez algumas partes ficariam soltas na trama sem a divisão, mas caberia à editora e ao diretor Denis Villeneuve (Redemoinho) buscarem uma alternativa melhor do que os enormes títulos em vermelho aparecendo de tempos em tempos.

Villeneuve também assina o roteiro do longa, que é baseado em peça homônima de Wajdi Mouawad. Incendies (no original) é um filme que merece ser conferido. Além de contar com uma competente direção, a produção também se destaca nos quesitos trilha sonora (Grégoire Hetzel) e direção de fotografia (André Turpin). A música não perde tempo tentando ampliar o drama mostrado na tela e, por isso, merece o destaque, enquanto que a fotografia pode ser considerada brilhante. Turpin faz a opção de dar um tom mais leve e frio às sequências passadas no Canadá, em contraponto com as imagens avermelhadas e densas do Oriente Médio - algo que não é novo, é bem verdade, mas que aqui cai como uma luva.

O longa merece destaque também com relação ao seu elenco. Vista em Rede de Mentiras, de Ridley Scott, a belga Lubna Azabal tem uma performance memorável como Nawal Marwan, enquanto que Maxim Gaudette e, especialmente, Mélissa Désormeaux-Poulin se saem muito bem no papel dos irmãos.

E lamentando utilizar mais um trocadilho, concluo dizendo que este filme é um incêndio que você não deve evitar.

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