terça-feira, 10 de novembro de 2015

MALABARISMOS MENTAIS

Hélio Schwartsman

 "Além das duas pessoas que matamos, das que ferimos, da mulher em que demos coronhadas e das pessoas que fizemos comer vidro, não machucamos ninguém." Essa declaração de um "serial killer" americano após ser pego pela polícia é meu exemplo favorito da capacidade que o ser humano tem de torcer a linguagem e os fatos com o objetivo senão de justificar suas ações ou as de pessoas de que gosta, ao menos de torná-las mais palatáveis para si mesmo.
Lembrei o caso do assassino honesto ao especular sobre o estado de espírito de petistas que acreditaram sinceramente que o partido seguia um padrão ético diferenciado. O que eles estarão pensando agora, diante das informações que surgem na imprensa sobre a movimentação bancária de altos dirigentes da legenda?
Segundo a revista "Época", a empresa de Lula, que produz basicamente palestras do ex-presidente, faturou R$ 27 milhões nos últimos quatro anos. Já a consultoria de Palocci faturou R$ 53 milhões, desde 2011, depois que ele deixou o governo devido a suspeitas envolvendo justamente a consultoria. Essas cifras vultosas se somam às embolsadas por outro grão-petista, José Dirceu, cuja consultoria lhe rendeu dividendos até quando estava na Papuda.
É claro que ganhar muito dinheiro não é crime. Em tese, é possível que os rendimentos sejam fruto de trabalho legítimo. Só uma investigação permitiria eliminar as suspeitas. Meu ponto, porém, é outro.
Após o mensalão, petistas tenazes diziam, ainda que à boca pequena, que o partido não havia feito nada que as outras legendas já não fizessem, com a diferença de que desta vez era por uma boa causa, não para enriquecimento pessoal. Agora, que está claro que a nata do PT ganhou bastante dinheiro, esse discurso se torna mais difícil de sustentar. Fico só imaginando qual vai ser a próxima torção verbal capaz de acomodar as novas dissonâncias cognitivas.
 

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